Antes da glória

Não são só instituições religiosas ou crentes mais ou menos atentos que ganham protagonismo quando se celebra a cruz. Não é também pelo peso de discursos moralistas ou pela imposição normativa de quem eleva os horizontes da vida que chegam a públicos cada vez mais diversificados os acontecimentos que a Semana Maior assinala para os cristãos. Multiplicam-se iniciativas dinamizadas por diferentes grupos e muitas por autarquias para viver a Semana Santa. Para recriar nas ruas e nas Praças de muitos locais os acontecimentos de há 2000 anos e que determinaram decisivamente a história de toda a pessoa humana: a paixão, morte e ressurreição de Jesus Cristo. Contrariamente ao que acontece com outro tipo de festas religiosas, as que recordam os passos do Calvário estão dominadas pelo sofrimento. E são esses quadros os que se apresentam à sociedade de hoje, aparentemente divorciada de qualquer sombra de dor e empenhada em conquistar apenas momentos de júbilo. Paradoxalmente, acolhe a memória da Cruz do Redentor, incapaz de permanecer indiferente ao que se passa de único nessas procissões de passos irrepetíveis na História da Humanidade. Outro indicador: ao contrário do que acontece na celebração do Natal, já preenchido com adições sociais e comerciais que frequentemente escondem Jesus, Cristo permanece como única razão de ser do que a Semana Santa torna presente. Na Páscoa, emerge como razão ímpar para dias de silêncio, de contemplação e de júbilo o mistério de uma morte e ressurreição, a de Jesus Cristo. E mesmo quando os dias são para pouco mais do que férias, cruzam-se no descanso de muitas famílias os sinais externos da celebração dos ritos litúrgicos ou dos rituais impostos pela tradição. Em todos os tempos, também nos que a crise nos oferece, a certeza de que a dor não é um obstáculo, mas parte integrante de um processo de vida torna-se progressivamente uma evidência, mesmo que não enunciada. E surge como o caminho para chegar ao bem, ao belo, à alegria, ao sucesso. No desporto como na vida de todos os dias, ela conduz à glória: a celeste e a terrestre. Paulo Rocha

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