Andrea Lupi
A perspectiva, ao contrário da geometria ortogonal, põe as coisas no seu devido lugar – está perto, é gigante; está longe, é pequeno. Nestas coisas, mais da vida do que do desenho, temos tendência a ver os problemas a um palmo de distância.
A saudável alternância entre o plano aproximado e o plano geral, zoom in, zoom out, para usar uma nomenclatura anglófona, é uma lição de arte e de vida.
Recordei-me desta lição há poucas semanas quando me lembrei da resposta que o encenador francês Stéphane Braunschweig, encenador de teatro e de ópera (que apresentou em 2007 no CCB, integrado na temporada do São Carlos, uma belíssima versão do Wozzeck de Alban Berg) me deu quando lhe perguntei o que era a encenação, na sua perspectiva. Respondeu que era o constante exercício de zoom in, zoom out, de olhar para os pormenores, mas tendo sempre em conta o plano geral, o global, the big picture, para usar outro anglicismo (perdido por cem…).
Pensei em como o trabalho de criação artística – de teatro ou de ópera, de realização de um filme, de composição de uma música, de criação de dança, de uma pintura, escultura ou medalha – implica forçosamente esta ideia de atenção ao pormenor e ao resultado global. Como se encadeiam duas ideias, dois gestos, dois planos ou compassos, e como se encaixam na criação já completa ou, pelo menos, terminada.