Ano Novo, ano de Jubileu!

Padre Diogo Martinho, Diocese de Lamego

Dizemos que a esperança é a última a morrer. Não a Esperança-Virtude-Teologal que dá corpo ao ano jubilar em que estamos. Esta não morre só no fim, morre sempre que morremos nós. Esta Esperança não é um sentimento, nem coisa do género, é o modo de viver acompanhado, estrutura “desembaciada” onde, no tempo, se encontram o drama humano e a Graça Divina. A Esperança Jubilar quer passar de conceito a conteúdo. Para isso há que ter os pés assentes na terra e o olhar posto no céu, não basta ser-se “otimista jubilar”.

Nos Exercícios Espirituais de Santo Inácio, quem os faz é convidado (tanto nos exercícios como na vida) a não se deixar encantar pelas flores nem assustar pelas feras, a não pedir saúde ou doença, alegria ou tristeza. A atitude modelo é a de São José: desfocado do que não é essencial e concentrado em não se deixar “entreter”.

Penso que o propósito do Jubileu não seja, de todo, do âmbito do entretenimento. Esta questão da Esperança tem como matéria a autenticidade da vida humana, tal como ela é, “lavrando-a” profunda e lentamente, mas em paralelo com a vida de Jesus.

Diz-nos o hino do Jubileu que “Deus nos olha, terno e paciente: nasce a aurora de um futuro novo. Novos Céus, Terra feita nova: passa os muros, ‘Spirito de vida.” Há, pois, passos indispensáveis no caminho de um “Peregrino de Esperança”. Um dos primeiros e mais importantes é perceber que O Senhor não quer saber dos seus pecados para nada. Jesus não o quer libertar só como Moisés libertou, Ele quer libertá-lo para uma liberdade completa; libertar a sua liberdade. Deste modo, aquilo que possa estar submetido à culpa, passa a submeter-se à Graça, relendo a vida a partir daí.

Ao fim e ao cabo, que o Jubileu será bom, todos nós o sabemos, mas a questão não está tanto nas atividades que acontecerão, nem na sua importância ou grandeza. A questão está no modo como cada um de nós o está a viver. Este modo não há-de ser nem mais nem menos do que “como esta criança”.

Que é que uma criança faz que mereça a nossa atenção? A atenção do mundo dos adultos? Praticamente nada, mas Jesus, no pior momento da Sua vida chamou por Deus dessa forma infantil… “Abba” (papá). Poderia ter invocado o Deus de Abraão, de Isaac e de Jacob, ou o Deus dos exércitos mas, de facto, preferiu a inútil linguagem infantil. A preferência de Jesus por esse modo de vida, como quem descansa permanentemente no seio do Pai, permitiu-lhe viver a sua sobrecarregadíssima agenda com confiança, com inteligência, com júbilo… em paz.

A inteligência emocional com que vemos Jesus a lidar com os maiores males do mundo (egoísmo, soberba, morte, etc.) cativa. Todos querem estar com Ele, porque, quer fosse nas coisas grandes ou pequenas, Jesus era criança bem-disposta. Foi-o desde Belém até Jerusalém (mesmo na Cruz, ou especialmente na Cruz).

Se calhar, pelo modo como estamos em missão, ainda antes de dizer o que quer que seja, podemos já estar a anunciar a Esperança. Para quê, então, complicar? Vejamos, novamente o que nos diz o hino: “Ergue os olhos, move-te com o vento, não te atrases: chega Deus, no tempo.

Jesus Cristo por ti se fez Homem: aos milhares seguem o Caminho!”

Este ano é novo, como todos o são no seu início. Mas este é Novo, porque é Jubilar. Queiramos nós, de facto, ser renovados. Deixarmos a Esperança morrer com tudo aquilo que precisa de morrer na vida de cada um. Só assim se nasce.

Um Feliz ano Jubilar para todos!

Padre Diogo Martinho, Diocese de Lamego

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