Portugal abriu as portas à iniciativa do Parlamento Europeu com mais de 500 actividades agendas de Norte a Sul do país Foi lançado no dia 27 de Fevereiro o Ano Europeu para o Diálogo Intercultural. Esta é uma iniciativa do Parlamento Europeu, que no nosso país, vai ser coordenado pelo Alto Comissariado para a Imigração e Diálogo Intercultural (ACIDI). Até ao final do ano inúmeras actividades estão já agendadas, num programa que não está ainda fechado. Actividades nacionais, regionais ou locais vão acontecer de Norte a Sul com o objectivo de promover o diálogo intercultural. ”Não se trata de uma iniciativa dirigida às comunidades imigrantes, mas antes às sociedades europeias como elas são”, exprimiu à Agência Lusa, Rosário Farmhouse, Alta-comissária para a Imigração e Diálogo Intercultural. Rosário Farmhouse faz o apelo para que os portugueses conheçam melhor os imigrantes que vivem no país e que encarem a diversidade cultural como “uma grande oportunidade”. Esta oportunidade dada ao portugueses permite “dialogar mais e identificar-se” com as diferentes culturas e “perder o medo do desconhecido”. O diálogo intercultural existe em Portugal e a realização das mais de 500 iniciativas a nível nacional comprova que os portugueses “estão cada vez mais atentos a esta área”, afirma a Alta-comissária. No entanto este diálogo “pode ser melhorado” através da sensibilização da opinião pública para a riqueza da interculturalidade e pluralidade que vai permitir um conhecimento mútuo. “Temos tendência de olhar para a diversidade cultural como uma ameaça. Em vez de a olharmos pela negativa, temos que a encarar como uma grande oportunidade para a construção de uma sociedade mais coesa, onde as pessoas se possam sentir bem, independentemente da sua origem, religião, classe social ou cultura. É importante conhecerem-se melhor”, sublinha. Rosário Farmhouse lembra que apesar de Portugal ser um país pequeno, com fluxos migratórios relativamente recentes e um povo que muitas vezes não reage “tão abertamente para aquilo que não conhecem”, os imigrantes sentem-se “bem” no país e os portugueses “são genuinamente acolhedores” e “um povo muito dado à interacção com as outras culturas”, afirmou. A Alta-comissária considera que actualmente não se deve falar só em tolerância, mas também em diálogo intercultural. “A tolerância é um passo fundamental para que se consiga estabelecer o diálogo, mas este tem que ser muito mais interactivo, tem que ir mais além, ser mais audaz para que realmente se consiga integrar os imigrantes e construir algo em conjunto”. As autarquias têm um papel decisivo na integração dos imigrantes. “A integração começa por ser de proximidade a nível local, na rua, bairro, freguesia e município”. “Temos a possibilidade através das escolas que estão na sua autarquia poder chamar a atenção para a temática junto das crianças. Se conseguirmos preparar os mais novos temos frutos mais tarde”, exemplificou. De entre as “variadíssimas actividades” que integram o Ano Europeu do Diálogo Intercultural e que englobam a sociedade civil e diversos ministérios, Rosário Farmhouse destacou o projecto “Museu, Espelho Meu”, que visa promover o museu como espaço de representação identitária, social e multicultural; o “Ciclo Outras Lisboa”, no Teatro S. Luiz, em Lisboa, onde estarão em exibição peças de teatro de todo o mundo, e um concurso de fotografia europeu para promover a interculturalidade. No âmbito do Ano Europeu do Diálogo Intercultural, que envolve 42 bibliotecas e 97 projectos com escolas, estão já programados cinco festivais de cinema, 33 espectáculos de dança e artes, 41 exposições, 75 feiras temáticas, 22 espectáculos de música, 46 peças de teatro e 63 colóquios, numa realização de 504 eventos que envolve mais de 300 instituições. O desafio da integração No desafio do acolhimento aos migrantes “a Igreja foi pioneira”, afirma à Agência ECCLESIA Eugénia Quaresma, da Obra Católica Portuguesa de Migrações – OCPM, recordando a obra feita a nível da formação ou do relacionamento com as associações e “deu sinais de acolhimento no diálogo inter-religioso”. A OCPM aposta junto das dioceses na implementação da Festa dos Povos. Esta iniciativa tem sido um sucesso garantido de Norte a Sul dos país. Apesar de nem todas as dioceses apostarem ainda nesta realização, muitas são as paróquias que já a incluíram no seu calendário, “sendo sinal de integração comunitária”. As migrações sempre fizeram parte da sociedade portuguesa. “O grande desafio deste ano é trabalhar a integração”, explica Eugénia Quaresma, que sublinha a importância da integração a nível local. “As paróquias devem estar cada vez mais despertas para a integração”. Eugénia Quaresma dá conta de episódios de imigrantes que são “muito activos nos seus países de origem, mas que em Portugal estagnam. Não queremos que isso aconteça”. “Se nas comunidades houver espaço para que as pessoas trabalhem em pé de igualdade, a integração acontecerá”, explica. Passar para a integração “implica a evolução no olhar. O migrante não fica no patamar do «coitadinho» e da emergência social, mas vê-se nele um parceiro na construção da comunidade”, traduz Eugénia Quaresma. O Fórum de Organizações Católicas para a Imigração – FORCIM – desenvolve trabalho de pressão e defesa dos direitos e deveres, para que o exercício de cidadania seja efectivado. As organizações católicas têm um contacto com a realidade. “Ouvem, estão com as pessoas e ajudam-nos a ajustar políticas e mecanismos implementados”, afirma Eugénia Quaresma. A Festa dos Povos faz parte do programa do Ano Europeu do Diálogo Intercultural. Também algumas escolas estão envolvidas nesta programação anual através da promoção de acções de formação junto da comunidade escolar. A OCPM vai promover, em Julho, um encontro nacional de formação dos responsáveis e colaboradores dos Secretariados Diocesanos, sob o tema “As Migrações e os Desafios pastorais da Igreja num país em mutação cultural”. Projecto nunca realizado O lançamento do Ano Europeu para o Diálogo Intercultural “é um desafio para cada pessoa individualmente, mas também para toda a sociedade, para uma atitude mais assumida e confiante”, afirma o Pe. Valentim Gonçalves, pároco do Prior Velho, em Lisboa. Esta aceitação leva ao reconhecimento “que a diferença não é um risco mas antes uma oportunidade para se ter uma mundividência mais ampla e enriquecedora”, num projecto “nunca está realizado”, reconhece o pároco do Prior Velho. Esta relação tem acompanhado a Igreja ao longo dos tempos e hoje “temos de estar muito atentos a este enorme desafio”, apela o sacerdote, pois hoje já ninguém vive isolado. “Temos um mundo que entra dentro de casa e são as realidades que estimulam a assumir posições, que acabam por ser novas na vida de cada um”. Este é um esforço “muito exigente”, onde a corrente da rejeição e exclusão “é muito forte” e onde “quem entra abre a porta ao conflito e à guerra”. O Pe. Valentim explica que a atitude de muticulturalismo pressupõe um movimento de dois sentidos onde “ninguém se exclui”. É do esforço conjunto que nasce a “integração”. Cultura é caminho de evangelização O Centro de Estudos dos Povos e Culturas de Expressão Portuguesa (CEPCEP) da Universidade Católica Portuguesa (UCP) está a celebrar 25 anos de vida. O director desta unidade de investigação, Roberto Carneiro, frisa que a fundação do Centro foi “premonitória”, ao ter a visão da cultura como “terreno fértil para a evangelização” e para a própria Universidade. Utilizando ferramentas académicas, o CECEP procura “analisar de forma sintética e interdisciplinar” os problemas da sociedade portuguesa, dos países lusófonos e das comunidades que partilham o português no mundo, da Galiza a Goa, na “mestiçagem de línguas e culturas”. Dezenas de projectos foram promovidos para aproximar estes povos, destacando-se o investimento feito para “manter a língua portuguesa em Timor” ou na criação da Universidade Católica em Angola. O Centro desenvolve estudos, investigação e formação, organização de conferências e debates, e edita publicações. O seu carácter interdisciplinar proporcionou a cooperação académica e científica em diversas áreas temáticas como a globalização, a cultura popular, a cidade, a imigração, a educação, o emprego e a história, tanto em Portugal como no mundo de língua portuguesa. Rigor e qualidade são os princípios que gerem o centro, na realização dos “interesses públicos” a que se propõe, em benefício “das culturas de língua portuguesa”. Roberto Carneiro afirma que o português se deve afirmar como “língua alternativa”, também na Internet, fugindo ao “império da língua inglesa”. Para mais informações sobre o Ano Europeu do Diálogo Intercultural consultar www.aedi2008.pt.