Contemplar a cruz, olhar o irmão
A longa leitura do Evangelho deste Domingo de Ramos convida-nos a contemplar a paixão e morte de Jesus. Na cruz, revela-se o amor de Deus, amor que não guarda nada para si, mas que se faz dom total.
Quantas vezes a multidão estava perto de Jesus! Para O escutar, para beneficiar dos seus gestos, para cruzar o seu olhar, para aprender a rezar…
A mesma multidão estende os mantos ou os ramos à passagem de Jesus e grita: “Hossana! Bendito o que vem em nome do Senhor!”
Esta gente estava pronta a reconhecer como Rei aquele que teria como trono uma cruz e como coroa uma coroa de espinhos?
O grito da multidão era de aclamação; alguns dias mais tarde o seu grito será de condenação: “Crucifica-O!”
Chegou o tempo do silêncio que permite acolher o mistério, o mistério do amor de Deus. Celebrar a paixão e morte de Jesus é abismar-se na contemplação desse amor.
Por amor, Jesus veio ao nosso encontro, assumiu os nossos limites e fragilidades, experimentou a fome, o sono, o cansaço, conheceu as tentações, experimentou a angústia e o pavor diante da morte; e, estendido no chão, esmagado contra a terra, atraiçoado, abandonado e incompreendido, continuou a amar.
Desse amor resultou vida plena, que Ele quis repartir connosco “até ao fim dos tempos”: esta é a mais espantosa história de amor que é possível contar, a boa notícia que enche de alegria o nosso coração de crentes.
Contemplar a cruz significa assumir a mesma atitude que Jesus assumiu e solidarizar-se com aqueles que são crucificados neste mundo: os que sofrem violência, os explorados e excluídos, os abandonados e descartados, os que são privados de direitos e de dignidade.
Olhar a cruz de Jesus significa denunciar tudo o que gera ódio, divisão, medo, em termos de estruturas, valores, práticas, ideologias; significa evitar que os homens continuem a crucificar outros homens; significa aprender com Jesus a entregar a vida por amor.
Viver deste modo pode conduzir à morte, mas o cristão sabe que amar como Jesus é viver a partir de uma dinâmica que a morte não pode vencer: o amor gera vida nova e introduz na nossa carne os dinamismos da ressurreição.
Que a semana iniciada hoje seja “santa”. Na vida trepidante que levamos, procuremos reservar na nossa agenda alguns encontros especiais que desejamos ter com o Senhor: em cada dia, viver com Ele um momento de oração, de meditação, de adoração; fixar as celebrações nas quais poderemos participar, com os devidos cuidados por causa da pandemia; prever serviços a prestar, possíveis visitas a fazer…
Que esta semana seja “santa” nos momentos quotidianos de encontro com Jesus Cristo, sempre a contemplar a Cruz e a olhar o irmão.
Manuel Barbosa, scj
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