Vida eterna no quotidiano
No Evangelho deste 28.º Domingo do Tempo Comum, conhecemos a resposta radical de Jesus ao jovem que lhe pergunta sobre o que fazer para alcançar a vida eterna: “Falta-te uma coisa: vai vender o que tens, dá o dinheiro aos pobres, e terás um tesouro no Céu. Depois, vem e segue-Me”.
Os apóstolos tinham razões para ficarem desconcertados… e nós também, certamente! É verdadeiramente necessário abandonar tudo, nada possuir, ser “pobre como Job”, ou como Francisco de Assis, para ser discípulo de Cristo? Isso parece irrealista e impossível!
Olhemos um pouco mais de perto! Na primeira parte do diálogo, o jovem comete o mesmo erro dos fariseus. Fica-se pelo “fazer”. Para eles, a Lei era a norma suprema e a sua observação escrupulosa, o único meio para obter de Deus a salvação. Religião severa e exigente, sem dúvida, que tinha a sua grandeza.
Ora, Jesus convida o homem rico a passar para outro registo. De repente, não se trata de vida eterna a ganhar, mas de seguir Jesus. A vida eterna é estar com Jesus! Eis a grande transformação que Jesus vem provocar. Não se trata primeiramente de fazer esforços especiais para obedecer a mandamentos, mas de entrar numa relação de amor com Jesus.
Há que descobrir que Jesus, Ele em primeiro lugar, nos ama. A referência de Marcos é fundamental: “Jesus olhou para ele com simpatia”, com amor. É este olhar que transforma tudo. Jesus quer fazer compreender ao homem rico que lhe falta o essencial: deixar-se amar em primeiro lugar, descobrir que todos os seus bens materiais nunca poderão preencher esta necessidade vital, para toda a pessoa, de ser amada. Senão, é impossível aprender a amar.
As riquezas são mesmo um obstáculo ao amor, porque este, para ser verdadeiro, diz ao outro: “Preciso de ti. Sem ti, serei pobre em humanidade”. As riquezas desse homem impediram-no de ler tudo isto no olhar de Jesus. O homem partiu. Mas Jesus não lhe retirou o seu amor, acompanhou-o sempre com o seu olhar de amor, como o pai do filho pródigo.
Voltemos ainda à questão da vida eterna, desejo do homem rico e de todos nós. Deus oferece-nos essa vida já neste mundo e convida-nos a acolhê-la e a escolhê-la em cada dia da nossa caminhada nesta terra; no entanto, sabemos que só atingiremos a plenitude da vida quando nos libertarmos da nossa finitude, das nossas fraquezas e limitações que a nossa humanidade nos impõe.
Como peregrinos de Deus, a vida eterna é uma realidade que deve marcar cada passo da nossa existência terrena, em todos os nossos quotidianos, sempre iluminados pelo olhar de amor de Deus para connosco. E neste Mês do Rosário e Mês Missionário, como discípulos missionários de Jesus Cristo, vivamos esse amor como missão das nossas vidas, famílias e comunidades.
Manuel Barbosa, scj
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