Foi um «certificado de maturidade» para a Igreja Católica local, diz o enviado especial do Papa ao evento
Lisboa, 23 junho 2017 (Ecclesia) – O cardeal-patriarca de Lisboa, D. Manuel Clemente, diz que o primeiro congresso eucarístico nacional em Angola foi um sinal “forte e convincente” de “vitalidade”, em termos do que é “o catolicismo” naquele país.
Em declarações publicadas hoje no Semanário ECCLESIA, D. Manuel Clemente, que participou nos trabalhos na cidade de Huambo, enquanto enviado extraordinário do Papa Francisco, considera se este evento foi como um “certificado de maturidade” para uma comunidade católica que parece ter passado a sua “fase inicial de desenvolvimento”.
No congresso, que entre 12 e 18 de junho assinalou os 150 anos da segunda fase de evangelização de Angola, participaram cerca de 100 mil pessoas, provenientes das 19 dioceses do país.
“Uma Igreja que é capaz de organizar algo deste género, com o que isto implica de preparação, não apenas espiritual e de formação mas também material e de deslocação de pessoas, de logística, de alojamento, e correr tudo tão bem. Fiquei com uma impressão muito forte”, salienta aquele responsável.
Entre os exemplos positivos que encontrou, D. Manuel Clemente destaca em primeiro lugar a riqueza das vocações, num território onde “os seminários estão cheios” e “todos os anos as ordenações acontecem”.
O presidente da Conferência Episcopal Portuguesa aponta depois a existência de muitos leigos “com formação” e capazes de abordar os desafios do país “com uma clareza muito grande, com coisas já assumidas, meditadas, bem explicadas”.
“Quer mais virada para a parte interna da Igreja, quer para as relações Igreja – mundo, o lugar dos leigos na sociedade, a vida religiosa, isso ressaltou muito”, acrescenta.
Neste plano, a Rádio Ecclesia, emissora católica de Angola, também pode desempenhar um papel essencial, enquanto veículo de transmissão da mensagem e dos valores cristãos, “daquilo em que se acredita e do que se acredita como um fator positivo para o desenvolvimento social”.
Atualmente ela está confinada a Luanda mas, de acordo com D. Manuel Clemente, estão a ser dados passos para concretizar a sua “cobertura nacional”.
“Está em causa o direito à informação e até a liberdade religiosa, que é algo que não se realiza apenas dentro das portas das Igrejas”, lembra aquele responsável.
Através da consolidação das suas estruturas, a Igreja Católica em Angola pode olhar com otimismo para o futuro, e para a abordagem aos desafios que marcam a sociedade local, como as feridas da guerra que ainda estão bem presentes, e problemas como a pobreza e o desemprego.
“Isso apareceu em termos de pensamento social cristão, da Doutrina Social da Igreja, e também a ultrapassagem de clivagens, não só no tempo das guerras coloniais mas também no tempo da guerra civil, que foi devastadora”, recorda D. Manuel Clemente, que teve oportunidade de ver no Huambo as “marcas” que ainda persistem “do que foi essa destruição”.
Uma cidade que “já está em reconstrução geral e há vontade e ânimo de andar para a frente”, conclui.
JCP