Irmão Bernardino Frutuoso e jornalista Octávio Carmo projetam visita de Francisco ao Chile e Peru
Lisboa, 16 jan 2018 (Ecclesia) – O irmão Bernardino Frutuoso, missionário comboniano que viveu durante 10 anos no Peru, afirmou que o Papa leva a partir de hoje, no seu regresso à América Latina, uma mensagem de respeito pelos povos indígenas.
Francisco inicia esta segunda-feira a 22ª viagem internacional do pontificado, com sete dias de visita ao Chile e ao Peru.
Nesta última nação, refere o irmão Bernardino Frutuoso, o Papa e quem o acompanha vão ser confrontados com as desigualdades sociais de um país com “muitos recursos naturais, com potencialidades e possibilidades de desenvolvimento”, mas “desigual” e onde os povos indígenas são “as periferias existenciais e humanas” tantas vezes abordadas pelo pontífice.
O religioso acredita que o Papa deseja afirmar não só os direitos do povo indígena, mas a necessária participação desta população na construção do país.
“O centro não é apenas Lima e as empresas estrangeiras, mas o respeito por estes povos”, sublinha à Agência ECCLESIA.
A 19 de janeiro, Francisco vai encontrar-se com 3500 representantes das comunidades indígenas da Amazónia, no Peru.
O missionário comboniano antevê um encontro de “muita fraternidade e alegria”, dominado pela esperança na construção futura do país.
“A cosmovisão de que não somos donos da natureza é o melhor que os povos indígenas nos podem dar. O bom viver, como eles nos dizem, mostra que a natureza é nossa mãe e com ela podemos relacionar-nos sem a destruir”, precisa o irmão Bernardino Frutuoso.
No Peru, Francisco vai ter um momento de oração junto das relíquias dos santos peruanos que, para o missionário, simbolizam a “inculturação do evangelho na cultura peruana”.
“O Evangelho é para todos, Jesus veio para todos independentemente da cor da pele, cultura e da sua geografia”, frisa.
O encontro que Papa Francisco vai ter com os povos indígenas do Perú, Brasil e Bolívia, durante a visita apostólica a dois países sul-americanos é visto pelo jornalista Octávio Carmo, da Agência ECCLESIA, como o “pontapé de saída” para o Sínodo especial para a Amazónia, previsto para 2019.
O momento agendado para o dia 19 de janeiro, em Puerto Maldonado, em território peruano, é visto pelo vaticanista como um “gesto global”, que mostra uma “relação que se tem vindo a aprofundar entre a Igreja Católica e os povos indígenas”.
“A presença do Papa deve ajudar a perceber a realidade das populações indígenas, os seus direitos e o necessário respeito, que não podem ser esmagadas por quem tem valores e prioridades diferentes dos Direitos Humanos”, afirma.
O pontífice vai ainda almoçar com uma representação do povo mapuche na localidade de Temuco, Chile, a 17 de janeiro.
Esta é uma viagem que, pelos “gestos do programa e intenções do Papa”. pede uma leitura pática da encíclica ‘Laudato Si: Sobre o Cuidar da Casa comum’, escrita por Francisco em 2015.
“Todo o programa está em consonância com o que escreveu na ‘Laudato Si’, que é uma das reflexões mais interessantes de um líder internacional, no caso da Igreja Católica, com capacidade de chegar a interlocutores em todo o mundo sobre o que é a necessidade de respeitar as populações indígenas, hoje”, sustenta o vaticanista da Agência ECCLESIA.
A viagem do Papa acontece numa altura em que se assinalam os 200 anos de independência dos países da América latina, com o Chile a celebrar esta data este ano e o Perú em 2021.
Para Octávio Carmo, esta é uma ocasião de “afirmação do catolicismo na esfera pública” e de aferir a relação entre a Igreja Católica e o Estado, numa região onde, em termos quantitativos de “encontra o coração do catolicismo”.
Até ao próximo domingo, Francisco vai visitar seis cidades numa visita em que estão previstos 21 discursos, percorrendo mais de 30 mil quilómetros.
O Chile recebe um Papa mais de 30 anos depois da visita de São João Paulo II, em 1987; o mesmo Papa esteve por duas vezes no Peru: em fevereiro de 1982 e maio de 1988.
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