No meio de um modelo tão abrangente e disperso, há também «espaço» para a «profundidade», realça Fernando Ilharco
Lisboa, 10 mai 2013 (Ecclesia) – Fernando Ilharco, professor na Universidade Católica Portuguesa (UCP), considera que as mudanças registadas na sociedade da informação, através do surgimento das redes sociais e da evolução tecnológica, abrem boas perspetivas à transmissão da fé cristã.
Numa entrevista publicada na edição mais recente do Semanário ECCLESIA, o investigador do Centro de Estudos de Comunicação e Cultura da UCP sustenta que a dinâmica de “envolvimento sensorial constante” que caracteriza o ambiente digital vai “muito” ao encontro da “tradição da Igreja”.
O docente recorda as palavras do Papa emérito Bento XVI que, na mensagem para o Dia Mundial das Comunicações Sociais deste ano, marcado para domingo, aborda o caso das parábolas.
“É curioso ver como o Papa refere que Jesus Cristo com as suas parábolas tentava estimular outros sentidos além da voz e da oralidade”, refere Fernando Ilharco, salientando que hoje, “os novos homens, os jovens, estão treinados” para responderem a este género de desafios.
O facto de as pessoas poderem estar “permanentemente a comunicar, não só textualmente mas por imagens”, através do computador, do telemóvel ou do ipad, melhorou a sua “atenção e perceção”.
Algo que pode ser decisivo também na compreensão e abertura à mensagem do Evangelho, também presente de diversas formas e em diferentes “ecrãs”, como por exemplo nos “vitrais, ícones e imagens”.
Por outro lado, o novo modelo de comunicação, por ser tão abrangente e disperso, pode levar os intervenientes a deixarem-se cair na “superficialidade, o que abre também um espaço à profundidade e para o silêncio que é mais valorizado”, acrescenta o especialista.
Fernando Ilharco analisa ainda outro “aspeto importante” da “sociedade de informação” e que pode ser relevante para a difusão dos valores católicos.
É que no palco digital “o escrutínio é constante” – “hoje em dia, ao contrário do que se dizia da mulher de César, para ser já não chega, tem é de se ser”.
“A coerência torna-se assim um valor em subida, porque se eu exijo dos outros o que não exijo de mim próprio, se digo uma coisa e faço outra, isso vai-me colocar num plano de incoerência e hoje as pessoas não têm tempo para perceber porque é que isso aconteceu e quais as explicações”, conclui o investigador da UCP.
O Dia Mundial das Comunicações Sociais, que este ano é assinalado no domingo que antecede a solenidade litúrgica de Pentecostes -, foi estabelecido pelo II Concílio do Vaticano através do decreto «Inter Mirifica», de 1963.
A iniciativa tem como tema “Redes sociais: portais de verdade e de fé; novos espaços de evangelização”; em Portugal, os peditórios realizados nas missas vespertinas de sábado e de domingo revertem para as Comunicações Sociais da Igreja: 50% do total para o secretariado nacional deste setor e o restante para os secretariados diocesanos.
PR/JCP