Região tem estado no centro das preocupações de Francisco
Lisboa, 19 jan 2018 (Ecclesia) – O Papa vai encontrar-se hoje no Peru com milhares de indígenas da Amazónia, num gesto que é visto como o lançamento da assembleia especial do Sínodo dos Bispos para a região pan-amazónica, marcada para outubro de 2019, no Vaticano.
O Sínodo especial foi anunciado por Francisco no último mês de outubro, com o objetivo de “identificar caminhos para a evangelização” na região, com atenção especial aos indígenas, “muitas vezes esquecidos e sem a perspetiva de um futuro sereno”.
O pontífice alertou para a atual crise da “floresta amazónica”, que apresentou como “pulmão de capital importância” para o planeta.
O Papa já tinha aprovado a criação de uma Rede Eclesial Pan-Amazónica, REPAM, que inclui representantes de comunidades católicas de nove territórios: Bolívia, Brasil, Colômbia, Equador, Guiana, Guiana-Francesa, Peru, Suriname e Venezuela.
Em setembro de 2017, na sua viagem à Colômbia, o Papa convidou a respeitar a sabedoria dos povos indígenas da Amazónia, que passar pelo respeito da “sacralidade da vida” e da natureza.
“A Amazónia constitui, para todos nós, um teste decisivo para verificar se a nossa sociedade, quase sempre confinada ao materialismo e no pragmatismo, está em condições de salvaguardar o que recebeu gratuitamente, não para o espoliar, mas para o fazer frutificar”, apelou.
O irmão Bernardino Frutuoso, missionário comboniano que viveu durante 10 anos no Peru, afirma que o Papa leva à região uma mensagem de respeito pelos povos indígenas.
O religioso antevê um encontro de “muita fraternidade e alegria”, dominado pela esperança na construção futura do país.
“A cosmovisão de que não somos donos da natureza é o melhor que os povos indígenas nos podem dar. O bom viver, como eles nos dizem, mostra que a natureza é nossa mãe e com ela podemos relacionar-nos sem a destruir”, precisa o irmão Bernardino Frutuoso.
Em Puerto Maldonado, cerca de 850 quilómetros a leste de Lima, o Papa vai encontrar-se com 3500 representantes das comunidades indígenas da Amazónia.
Na sua encíclica ‘Laudato si’, o Papa deixou sobre a desflorestação da Amazónia, sustentando que a exploração dos recursos naturais não deve apostar no benefício imediato.
Em 2013, no Brasil, Francisco disse aos bispos católicos do país que a Amazónia representa um “teste decisivo” para a Igreja e a sociedade.
“A Igreja está na Amazónia, não como aqueles que têm as malas na mão para partir depois de terem explorado tudo o que puderam. Desde o início que a Igreja está presente na Amazónia com missionários, congregações religiosas, e lá continua ainda presente e determinante no futuro daquela área”, sublinhou.
Dois anos depois, no Equador, o Papa apelou à defesa da biodiversidade e das florestas da Amazónia, durante um encontro com representantes da sociedade civil e um grupo de delegados das populações indígenas amazónicas.
“O Equador – juntamente com os outros países detentores de franjas amazónicas – tem uma oportunidade para exercer a pedagogia duma ecologia integral. Recebemos o mundo como herança dos nossos pais, mas também, lembremo-nos, como empréstimo dos nossos filhos e das gerações futuras, a quem o temos de devolver, e melhorado”, declarou, na igreja de São Francisco, em Quito.
Retomando os alertas que deixou na sua encíclica ‘Laudato si’ sobre a desflorestação da Amazónia, o Papa argentino sustentou que a exploração dos recursos naturais “não deve apostar no benefício imediato”.
“O conceito económico de justiça, baseado no princípio de compra-venda, é superado pelo conceito de justiça social, que defende o direito fundamental da pessoa a uma vida digna”, observou.
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