Amazónia: Papa diz que é urgente «respeitar» identidade dos povos indígenas

Francisco propõe Sínodo em quatro dimensões: pastoral, cultural, social e ecológica

Foto: Lusa

Cidade do Vaticano, 07 out 2019 (Ecclesia) – O Papa Francisco disse hoje no discurso inaugural do Sínodo especial para a Amazónia que é preciso “respeitar a história, as culturas, o estilo do bem viver” dos povos indígenas, sem os querer “domesticar”.

“Os povos possuem uma sabedoria própria, consciência de si, têm um sentir, uma forma de ver a realidade, uma história, uma hermenêutica, e querem ser protagonistas da sua própria história”, declarou, na sala do Sínodo, do Auditório Paulo VI, onde decorrem os trabalhos, até 27 de outubro.

Francisco questionou a divisão “civilização-barbárie”, que foi usada para “aniquilar” os povos originários, e deu exemplos de “discriminação” que ainda existem no seu próprio país, a Argentina

“É o desprezo pelos povos”, lamentou.

O Papa criticou quem “troça” dos indígenas e questionou mesmo os bispos presentes, a respeito de um comentário sarcástico que ouviu no Vaticano: “Que diferença há entre usar penas na cabeça e o tricórnio [chapéu eclesiástico] que usam alguns oficiais dos nossos dicastérios?”.

A intervenção identificou como perigos para os povos amazónicos os projetos centrados em três ideias: “desflorestação, uniformização, exploração”.

“As ideologias são uma arma perigosa”, advertiu Francisco.

O pontífice precisou que esta assembleia especial sobre a região pan-amazónica, que engloba nove territórios nacionais, se vai centrar em quatro dimensões: pastoral, cultural, social e ecológica.

“Aproximamo-nos com coração cristão e vemos a realidade da Amazónia com olhos de discípulo” e com “olhos de missionários”, declarou.

Francisco pediu que os vários participantes – bispos, missionários, representantes indígenas e outros especialistas – se mantenham “alheios a colonizações ideológicas que destroem ou reduzem as idiossincrasias dos povos”, sem o “afã empresarial” de apresentar programas, de “disciplinar” os povos amazónicos.

“Isso não”, insistiu.

Foto: Lusa

Recordando alguns “fracassos” na história missionária, o Papa observou que, muitas vezes, um “centralismo homogeneizante e homogeneizador” não deixou surgir a “autenticidade da cultura dos povos”.

O Sínodo de 2019, acrescentou, quer ter uma perspetiva “paradigmática, que nasce da realidade dos povos”, numa passagem do discurso, em espanhol, sublinhada com uma salva de palmas, pela assembleia.

“Não estamos aqui para inventar programas de desenvolvimento social ou de custódia de culturas, do tipo de um museu”, prosseguiu.

Após considerar normal que haja “resistências”, Francisco sublinhou que esta assembleia especial não é “um Parlamento”, nem uma demonstração de “quem tem mais poder nos media, nas redes sociais”, pedindo prudência na comunicação, para evitar “um Sínodo de dentro e o Sínodo de fora”.

A sessão inaugural contou com a apresentação do relatório introdutório, pelo cardeal Cláudio Hummes, presidente da Rede Eclesial Pan-amazónica (REPAM), relator-geral do Sínodo 2019.

O texto aborda a falta de padres nas comunidades locais, que ficam impossibilitadas de celebrar a Eucaristia dominical.

Em cima da mesa está a possibilidade de ordenação presbiteral de homens casados, que residam nas comunidades, e a criação de um “ministério adequado de mulheres dirigentes de comunidade”.

O arcebispo emérito de São Paulo evocou os “mártires” da Amazónia: missionários, missionárias, lideranças leigas e indígenas, que “continuam a ser assassinados”.

O relatório aponta a uma “grave crise climática e ecológica que atinge todo o planeta”.

O Vaticano vai limitar ao “mínimo possível” o uso de plástico, durante o Sínodo de 2019, usando copos de material biodegradável e pastas feitas em em fibra natural; as comunicações estarão online para limitar o uso de papel, acrescentou Baldisseri.

O Sínodo da Amazónia em seis pontos:

  1. Igreja em saída na Amazónia e os seus novos caminhos
  2. O rosto amazónico da Igreja: inculturação e interculturalidade no âmbito missionário-eclesial
  3. A ministerialidade da Igreja na Amazónia: presbiterado, diaconato, ministérios, o papel da mulher
  4. A ação da Igreja no cuidado com a Casa Comum: a escuta da Terra e dos pobres; ecologia integral ambiental, económica, social e cultural
  5. A Igreja amazónica na realidade urbana
  6. A questão da água

(D. Cláudio Hummes)

OC

(Notícia atualizada às 11h00)

Sínodo 2019: Papa caminha com indígenas para dar início aos trabalhos da assembleia especial para a Amazónia

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