Alma dos animais

Cónego Manuel Maria Madureira, Arquidiocese de Évora

O conceito de alma nasceu e cresceu em ambientes de preocupação. Foi assim. No dealbar da curiosidade filosófica e científica, há alguns milhares de anos, o homem fez a análise fenoménica de si mesmo. Comparou-se com os outros seres junto dos quais se encontra no mundo e verificou que, quanto ao corpo, tinha muitas semelhanças, mas, quanto às faculdades não-corpóreas, reconheceu-se diferente, mesmo muito diferente. Descobriu que era inteligente, livre, dominador, independente, capaz de discernir, criar e construir, de falar, de pensar e decidir. E concluiu que isso era a sua alma. Logo a seguir, despertada a curiosidade, desenvolveu a capacidade de encontrar soluções para os seus espantos, exclamações e porquês. E definiu o corpo como sendo esta coisa constituída de cabeça, tronco e membros, ossos e músculos e um sem-número de outras coisas ligadas à sensibilidade e figura, que nasce, cresce e um dia acaba com a morte. Sobre a alma, foi mais cauteloso e menos explícito, ainda que, como se disse um pouco atrás, a identificasse com a racionalidade e com o espírito que nos faz estar vivos e se separa do corpo quando morremos. Santa ingenuidade! Essa é uma definição racionalista de alma! Para compor o ramalhete, ainda se aceita que somos a soma lógica das duas realidades, corpo e alma, que nunca se identificam por serem de naturezas diferentes, mas se unem acidentalmente durante a vida e se separam para sempre depois da morte, permanecendo viva a alma por ser imortal, enquanto o corpo é o que se sabe! Se, acerca da alma humana, pouco ou nada sabemos, que dizer da alma dos animais de estimação? Dupla ingenuidade!!! No zoo de Lisboa (e imagino que nos outros zoos do mundo seja igual), há um espaço reservado a cemitério dos animais de estimação. E já reparei que está muito mais cuidado e limpo que alguns cemitérios humanos! Pois bem. De acordo com uma notícia publicada na NET em 15.08.2019, há um cemitério em Hanói onde é prestada homenagem, com um banquete ritual, às almas dos animais de estimação lá sepultados. Salsichas, uvas, leite e bolos são colocados sobre as lápides de cães e gatos. Segundo a crença, os animais voltam, após a morte, para uma festiva refeição durante o “Mês Fantasma”. Dezenas de donos de animais de estimação participam na cerimónia. O carismático budista, Nguyen Bao Sinh, que administra aquele cemitério de animais de estimação de Hanói, acredita firmemente que a alma dos animais deve ser tratada com a mesma dignidade que a dos humanos. «Nós amamos cães e gatos não apenas nesta vida, mas também na outra vida». Cobra à volta de 60 euros por ano para que os donos possam ter um túmulo com uma minilápide para os seus animais de estimação. «É um preço baixo a pagar para quem quer ter certeza de que o seu animal ficará confortável após a morte».

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Agência ECCLESIA

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