Alemanha: Papa recorda horror do Holocausto

Bento XVI fala da «memória pavorosa» do regime nazi em encontro com responsáveis judaicos

Berlim, 22 set 2011 (Ecclesia) – Bento XVI encontrou-se hoje em Berlim com representantes da comunidade judaica alemã, lembrando as “horríveis imagens que chegaram dos campos de concentração” nazi e o Holocausto da II Guerra Mundial (1939-1945).

“O regime de terror do nacional-socialismo baseava-se num mito racista, do qual fazia parte a rejeição do Deus de Abraão, de Isaac e de Jacob, do Deus de Jesus Cristo e das pessoas que acreditavam nele”, afirmou.

Numa reunião que decorreu nas instalações do parlamento federal alemão, o Papa recebeu a saudação do presidente da comunidade judaica, Dieter Graumann, na presença do responsável máximo pela Conferência Episcopal Alemã, D. Robert Zollitsch.

“Hoje, encontro-me num lugar central da memória, de uma memória pavorosa: a partir daqui foi projetada e organizada a Shoah, a eliminação dos concidadãos judeus da Europa”, disse Bento XVI.

O Papa falou de Adolf Hitler como “um ídolo pagão, que queria colocar-se como substituto do Deus bíblico, Criador e Pai de todos os homens”.

“Com a recusa do respeito a este Deus único, perde-se sempre também o respeito pela dignidade de homem”, alertou.

O Papa recordou a visita à Sinagoga de Colónia, em 2005, e a figura do arcipreste da Catedral de Berlim, Bernhard Lichtenberg, beatificado por João Paulo II em 1996 e conhecido pela sua resistência ao regime nazi na defesa dos judeus.

“De coração agradeço ao presidente, Dieter Graumann, as amáveis palavras de boas-vindas. Elas manifestam quanto cresceu a confiança entre o povo judeu e a Igreja Católica, que têm em comum uma parte não irrelevante das suas tradições fundamentais”, disse.

O diálogo da Igreja Católica com o judaísmo, indicou Bento XVI, tem-se aprofundado e “deve reforçar a esperança comum em Deus ,numa sociedade cada vez mais secularizada”.

“Certamente, judeus e cristãos têm uma responsabilidade comum no progresso da sociedade, a qual possui sempre também uma dimensão religiosa”, acrescentou.

O primeiro dia da visita papal conclui-se com uma missa, no Estádio Olímpico de Berlim, cidade com apenas 7% de católicos (dados do Vaticano), onde se esperam mais de 70 mil pessoas.

A capital alemã acolhe esta tarde uma manifestação de protesto que juntou milhares de pessoas (os organizadores esperavam 20 mil participantes), contestando, entre outras, a posição da Igreja Católica sobre o uso do preservativo, a homossexualidade, o papel das mulheres e, em particular, a política do Vaticano na gestão dos casos de abusos sexuais de menores por membros do clero, sob o lema ‘Nunca mais’.

Peter Bringmann Henselder, um dos promotores da iniciativa, indicou que a mesma visava “encorajar as vítimas a mostrar o seu rosto”.

Bento XVI chegou esta manhã à capital da Alemanha, onde foi recebido pelo presidente federal, Christian Wulff, e pela chanceler Merkel, para além de outras autoridades civis e religiosas e uma representação de católicos alemães.

O Papa esteve na sua terra natal em 2005 (Jornada Mundial da Juventude em Colónia) e 2006 (visita à Baviera, região onde nasceu), mas esta é a primeira visita de Estado ao país.

A terceira viagem à Alemanha, 21ª ao estrangeiro (16ª na Europa), prolonga-se até domingo e conta com passagens por Berlim, Erfurt, Etzelsbach e Friburgo, tendo como lema ‘Onde há Deus, há futuro’.

Joseph Ratzinger, hoje Bento XVI, nasceu em Marktl am Inn, diocese de Passau, a 16 de abril de 1927 e foi eleito Papa no dia 19 de abril de 2005.

OC

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