Ajudas aos pobres e aos bancos

João César das Neves afirma que «se a ajuda aos bancos não for feita, a falência do sistema financeiro afectará todos, mas sobretudo os pobres» Na actual crise financeira, quando se ouvem as notícias de injecções milionárias de fundos na banca, uma das ideias mais frequentes é pensar que se gasta muito mais a salvar gestores ricos e incompetentes que a ajudar pobres honestos e necessitados. Esta ideia tem, como costume, misturados alguns elementos de verdade e confusão que vale a pena distinguir. Primeiro, deve dizer-se que os dois usos do dinheiro são muito diferentes. Quando o Estado dá um subsídio para ajudar a pobreza gasta verbas que vieram de impostos. Nas ajudas aos bancos, pelo contrário, o dinheiro não tem de ser gasto, se o for é em parte recuperado e não vem de impostos. Além disso, se a ajuda aos bancos não for feita, a falência do sistema financeiro afectará todos, mas sobretudo os pobres, que costumam ter as suas magras poupanças nos bancos. Vejamos cada coisa por sua vez. O sistema bancário, por tratar da moeda, é a base de toda a actividade económica. Hoje, quase todo o dinheiro que circula é bancário e consideramos equivalentes as notas no bolso com o que movimentamos com cartões ou cheques. Mas estes últimos dependem da solidez do banco que os emite. Se eles falissem, não apenas desapareceriam as nossas poupanças mas com elas acabariam muitos negócios e empregos. A crise económica seria terrível e, como acontece sempre, são os pobres quem mais sofre. Por isso a intervenção é indispensável. Dada esta importância, aparecem depois as referidas três diferenças entre estes gastos financeiros e os subsídios. Primeiro, quando o Governo cria um fundo para garantir a solidez da banca, se o público acreditar, o Estado não precisa de gastar um tostão. Confiantes na garantia, as pessoas acalmam-se e os montantes previstos para a sustentar ficam nos cofres públicos. Segundo, se o Governo chegar mesmo a injectar o dinheiro no banco, isso não é uma oferta mas um investimento. O Estado obtém em troca a propriedade de parte dos activos bancários que, por muito frágeis que sejam, sempre dão rentabilidade. Não é provável, mas até pode suceder que o sector público acabe ganhando dinheiro com a operação. Finalmente, as verbas não vêm dos nossos impostos. Para compreender isso é preciso entender o problema. Um pânico leva as pessoas a guardarem o seu dinheiro. É esta «secagem» de liquidez nos mercados, por fuga da moeda, que cria a crise. Ora as autoridades têm de intervir de dois modos diferentes. Um deles é emitir dinheiro novo pelo Banco Central. E o Banco Central pode emitir todo o dinheiro que quiser instantaneamente, substituindo por algum tempo a liquidez dos mercados. O único limite a essa emissão é o perigo de inflação, mas se a moeda desapareceu de circulação por causa do nervosismo, esse perigo não existe. a outra forma de financiar a intervenção, dívida pública, liga-se com a outra dimensão negativa do pânico. Dada a inquietação, ninguém empresta a ninguém com medo de a falência do devedor eliminar o crédito. Mas ao Estado toda a gente pode emprestar com segurança, porque ele nunca vai à falência. Assim, enquanto durar o desassossego, o Governo pode servir de intermediário, pedindo ele emprestado para emprestar a quem precisa. Uma vez passado o temporal, as autoridades retiram o excesso de moeda ou liquidam os créditos e tudo normaliza. Todas estas acções, para evitar o colapso do sistema financeiro, têm de ser acompanhadas por uma outra preocupação muito importante. É preciso que, apesar da ajuda dada às empresas financeiras, não se evite a necessária punição aos gestores e accionistas responsáveis pelos erros e delírios que originaram a crise. É indispensável que, salvando as instituições, continuem os despedimentos para os administradores e a desvalorização para os accionistas. Esta exigência advém, não apenas de um imperativo de justiça, mas também do mais elementar bom senso. Se esses responsáveis mantiverem as suas posições e a intervenção do Estado os ilibar das responsabilidades, nada impede que no futuro caiam em novas tolices. João César das Neves

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Agência ECCLESIA

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