Ajuda aos países em vias de desenvolvimento é subvertida

Organizações para o desenvolvimento denunciam ineficácia de donativos que não envolvem as populações locais As Igrejas africanas e algumas organizações religiosas internacionais afirma que os níveis de pobreza no mundo vão continuar “inaceitavelmente altos se a ajuda que se presta continuar a fugir ao problema central, que é o impacto na vida dos pobres”. A denúncia foi feita por ocasião do Fórum, que vai juntar, em Accra nos dias 2 e 4 de Setembro, mais de 800 representantes de países beneméritos multi e bilaterais, de governos e organizações da sociedade civil, para falar sobre a efectividade da ajuda. O encontro vai rever a Declaração de Paris. Este documento é um mapa, assinado em Março de 2005, por 100 ministros, responsáveis de agencias e outras entidades oficiais, que aponta caminho para melhorar a ajuda. Nesta declaração conjunta, a Caritas Internacionalis, o Simpósio das Conferências Episcopais de África e Madagáscar (SECAM), a Conferência de Todas as Igrejas Africanas (AACC), a Cooperação Internacional para o Desenvolvimento e Solidariedade (CIDSE) e a ACT Desenvolvimento manifestam o seu receio de que os “interesses dos pobres podem não ter sido considerados nos documentos produzidos pela Accra” (cidade do Gana onde os encontros têm decorrido). O Pe. Mvume Dandala, secretário geral da Conferência de Todas as Igrejas Africanas, que estará presente em Accra, afirmou que cerca de 29 mil crianças com menos de cinco anos, morrem todos os dias, 21 a cada minuto, na sua maioria devido a causas possíveis de prevenir. “Seis milhões dos quase 11 milhões de crianças que morrem todos os anos, poderiam ser salvas através de medidas de baixo custo. Em Accra há a possibilidade de melhorar a forma para terminar com o escândalo da pobreza, mas apenas se isso ajudar os pobres a tornarem-se actores do seu desenvolvimento”. René Grotenhuis, presidente da CIDSE e director da Caritas da Holanda, que estará presente no Fórum, afirmou que a Declaração de Paris ignora o desenvolvimento sustentável. “O impacto na vida dos pobres tem de ser a chave para se olhar para a forma como se gastam as ajudas”. Gweneth Berge, representante da ACT Desenvolvimento, afirmou que metade da ajuda transforma-se em consultorias caras a pedido de directrizes dos doadores. “As comunidade locais têm de desempenhar um maior papel na tomada de decisões que, em última análise, vai afectar a sua vida. Isto significa que têm de terminar as imposições dos doadores internacionais que continuam a subverter a ajuda”. Berge acrescentou ainda que “os países ricos estão a ter um comportamento vergonhoso, tentando que a ajuda que prestam se torne num benefício económico para os seus interesses”. O Bispo Francisco Silota, bispo de Chimoio, Moçambique, que representa a SECAM em Accra afirmou que a Igreja e as organizações religiosas são grandes apoios à saúde, à educação e a outros serviços sociais em países em vias de desenvolvimento. Mas aponta que a ajuda tem de “contribuir para alterar a mentalidade dos cidadãos africanos. O síndroma da dependência tem de ser ultrapassado. As pessoas têm de compreender que têm formas de conduzir o seu próprio destino”.

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