Água potável para todos

A água foi sempre sinal de fertilidade, de abundância, de progresso, de bens materiais, de felicidade. A falta de água é um problema grave para a comunidade, para a aldeia, para um povo, para as pessoas. No Livro dos Números, no capítulo 20, narra-se uma destas situações em estado agudo. No deserto de Sin, o povo judeu sentiu a falta de água para a comunidade. Então amotinou-se contra Moisés e Aarão. E diziam-lhes: “Mais valia termos morrido! Porque nos trouxestes para o deserto, para aqui morrermos e os nossos gados? Porque nos fizestes sair do Egipto? Aqui não podemos semear. Não há figueiras, nem vinhas, nem romãzeiras, nem água para beber sequer!” Moisés foi falar com o Senhor na Tenda do Encontro. E o Senhor falou a Moisés: “Pega na vara e reúne a comunidade juntamente com Aarão teu irmão. Depois, à vista deles, haveis de falar àquele rochedo e ele deixará correr as suas águas. Delas darás de beber à comunidade e aos seus gados”. Moisés e Aarão reuniram a assembleia em frente do rochedo e Moisés disse: “Escutai, rebeldes! Podemos nós fazer que a água vos nasça deste rochedo? Moisés ergueu a mão e bateu duas vezes com a vara no rochedo. Então as águas brotaram com abundância e a comunidade bebeu assim como os seus gados. O povo judeu sentiu a falta de água no deserto. A falta de água prejudica a vida do povo e a vida dos animais, a vida das plantas, a vida alimentar; não há água para beber, não há plantas, escasseiam os frutos – é a morte da natureza! Por isso encontramos as primeiras comunidades sedentárias instalando-se junto dos cursos de água. Aí surgem os primeiros aglomerados populacionais e o homem passa de pastor – nómada a agricultor – sedentário. Hoje o fenómeno da migração tem outras cambiantes, algumas bem trágicas. A seca prolongada obriga populações inteiras a deslocarem-se à procura de água. É fenómeno frequente em África e com consequências humanitárias de difícil resolução. Por outras as chuvas torrenciais devastam várias áreas e suas culturas em poucas horas ou dias! Há conflitos de tribos e grupos humanos. E há luta pela terra, sendo as melhores terras cobiçadas e cativadas pelos senhores da guerra que as arrolam em seu nome e propriedade ficando os pobres que as detinham à mercê do que sobra e não rende nada. E isto é na África, é no Brasil e é na Ásia. Por ocasião do 3º Fórum Mundial sobre a água, que se realizou em Quioto (Japão) de 16 a 23 de Março de 2003, a Santa Sé apresentou um documento, com o título “A água, elemento essencial para a vida”, elaborado pelo Pontifício Conselho “Justiça e Paz”. O texto faz ressaltar que a água é um elemento que desempenha um papel central em todos os aspectos da vida: para o ambiente, a economia, a segurança alimentar, a produção, a política. E acrescenta: “A água, especialmente para as populações que vivem na pobreza, tornou-se uma questão crucial para a própria sobrevivência e, portanto, para o direito à vida. A água é um factor fundamental em cada um dos três pilares do desenvolvimento sustentável: económico, social e ambiental. O documento do Vaticano liga o problema da água a questões éticas: o respeito da vida, a centralidade da pessoa humana, o destino universal dos bens, os princípios de solidariedade e da subsidiariedade.” A água é um direito de todos os homens e é um bem universal. Não pode alimentar comercializações gananciosas, nem ser propriedade de alguns. Deve ser acessível a todos. A comercialização deve de preferência estar ligada ao serviço público para evitar que entre na rota da exploração. É um serviço. Talvez por isso se tenham chamado “serviço de água e electricidade”. Sobretudo nas aldeias rurais muitos não terão acesso à água canalizada, à distribuição domiciliária, mas precisam necessariamente da água. Terão de a roubar à distribuição e correrão o risco de serem presos! A água potável para todos é urgente. Armando Soares Revista BOA NOVA

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