Especialista alerta para fenómeno que se vai repetir com mais frequência
Lisboa, 12 fev 2022 (Ecclesia) – O presidente do Conselho Nacional do Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (CNADS), Filipe Duarte Santos, afirmou que a seca em Portugal é um “problema anunciado” que exige “medidas estruturais”.
“A solução mais importante é, de facto, perceber que a água é um bem precioso e que temos de consumir o menos possível, sem prejudicar a que é utilizada para coisas essenciais”, assinalou, em entrevista conjunta à Ecclesia e Renascença.
O especialista em alterações climáticas sublinhou que Portugal vai viver secas cada vez mais frequentes e prolongadas, um problema “de todo o sul da Europa”.
Para Filipe Duarte Santos, o problema implica a redução das emissões globais de gases com efeito de estufa, esforço no qual o país tem feito um “percurso muito meritório”, realizando “uma transição dos combustíveis fósseis para as energias renováveis”.
A este respeito, sustentou que, em Portugal, “não se justifica a energia nuclear”.
O entrevistado aplaude o Papa por ter incomodado “todos os interesses dos combustíveis fósseis do mundo”, considerando que fez “um esforço notável”, em vários aspetos, em particular com a publicação da encíclica ‘Laudato Si’ (2015).
“Essa encíclica incomodou todos os interesses dos combustíveis fósseis, no mundo, e os defensores mais acérrimos de uma economia neoclássica, ortodoxa”, apontou.
O investigador destacou, por outro lado, que a água não pode faltar em setores essenciais como a agricultura, apontando a projetos como a reciclagem das águas residuais urbanas.
“Temos de compatibilizar o aspeto económico com o aspeto ambiental, e isto é que é desenvolvimento sustentável. É difícil, mas é um equilíbrio”, realçou.
Se pretendemos que a nossa atividade económica não sofra com essas questões, temos de encontrar outras disponibilidades de água, e isso faz-se através da utilização do conceito de economia circular, ou seja, reciclar as águas residuais urbanas fazendo um tratamento terciário, que permite que se possa beber”.
Filipe Duarte Santos assinalou o nexo entre as questões da energia, do clima e da água, destacando que o Estado “não pode fazer tudo”, ainda que o seu papel regulatório seja “fundamental”.
“Temos de ter o concurso da iniciativa individual e coletiva das organizações, que estão sensíveis às questões ambientais, conscientes dos problemas”, insiste.
Ângela Roque (Renascença) e Octávio Carmo (Ecclesia)