Carta Pastoral «Deixai sair o meu povo» incentiva jovens e mulheres a terem papel ativo nas eleições presidenciais de dezembro
Cidade do Vaticano, 09 set 2020 (Ecclesia) – Os bispos da República Centro-Africana afirmam que “há sinais de esperança” no país, mas alertam que “a contínua presença de grupos armados”, que controlam até 80% do território, “ameaça o futuro”, na Carta Pastoral ‘Deixai sair o meu povo’.
“Grupos estão envolvidos em crimes de guerra, crimes contra a humanidade, crimes ambientais e saques em larga escala dos nossos recursos minerais. Eles cometeram crimes de sangue contra pessoas inocentes em Bocaranga, Bohong, Bozoum, Besson, Bouar, Birao, Ndélé, Bria, Lemouna, Koudjili”, denunciam no novo documento, divulga o sítio online Vatican News.
Na Carta Pastoral ‘Deixai sair o meu povo’, os bispos da República Centro-Africana afirma que “há sinais de esperança, mas a contínua presença de grupos armados ameaça o futuro do país”.
“Constatamos com amargura que 70%, ou até mesmo 80%, do nosso país é ocupado por grupos armados, alguns dos quais são liderados pelos mercenários atrozes”, explicam.
Os bispos alertam que alguns desses grupos se estão a “fortalecer, a recrutar novos combatentes e a aumentar as reservas de armamento e munições”.
Os senhores da guerra tiram dividendos do Acordo político pela paz e a reconciliação, aproveitando as concessões que estes lhes oferecem, nomeadamente a plena liberdade de movimento. Impuseram o comércio da guerra, um modelo económico baseado no sangue humano”.
“Ainda não renunciaram ao plano de divisão do nosso país? Irão tentar conseguir isso interrompendo o processo eleitoral? Quais líderes serão capazes de tirar os habitantes da República Centro-Africana da opressão, da miséria e da ignorância?”, questionam no contexto das eleições presidenciais de dezembro.
Na carta pastoral é pedido aos jovens para serem “o recurso mais importante do nosso país” e não “um reservatório inesgotável” de soldados para a linha da frente e que se abstenham “contestação violenta” dos resultados na votação.
Os bispos dirigem-se também às mulheres e incentivam-nas a participar ativamente do processo eleitoral como “candidatas, eletricistas, educadoras e promotoras da não-violência em todos os níveis onde possam ser úteis ao nosso país”.
O documento contextualiza que “depois do golpe de Estado de março de 2013”, a República Centro-Africana foi dotada de “instituições democráticas, em março de 2016”, através do voto e das eleições “elaborou-se uma nova Constituição” e tiveram “autoridades legítimas”, e destacam o Acordo político para a Paz e a Reconcilização (APPRCA), assinado por 14 grupos armados com o governo, em 2019.
“Queridos irmãos e irmãs, no plano político, questionamos a eficácia das instituições republicanas na reconstrução de nosso país”, acrescentam no documento publicada no domingo, 6 de setembro.
Na carta pastoral a mensagem ‘Deixai sair o meu povo’, os bispos católicos da República Centro-Africana referem que quando “é assustador” quando se viaja pelo país “encontrar povoados inteiros forçados ao abandono” ou “incendiadas por criminosos impunes”.
“As famílias preferem viver no exílio ou em campos para pessoas deslocadas, que às vezes ficam a 100 metros de suas casas”, acrescentam, divulga o portal ‘Vatican News’.
As Forças Armadas Portuguesas estão presentes na República Centro-Africana, nomeadamente a 7.ª Força Nacional Destacada (FND), e a 12 de fevereiro 25 militares peregrinaram ao Santuário de Fátima e na celebração presidida pelo bispo do Ordinariato Castrense foi benzida uma imagem de Nossa Senhora que levaram para o país africano.
O contingente militar português está presente na RCA desde 2017, como membro da Missão Multidimensional Integrada das Nações Unidas para a Estabilização deste território.
CB/OC