Padre Octávio Sobrinho, Diocese de Bragança-Miranda
O mundo inteiro tremeu nesta vaga de dor, desilusão, sofrimento e morte provocada pelo COVID 19 e muitos se interrogaram: Afinal onde estava Deus quando isto aconteceu? Como permitiu Ele tal coisa? Mas a pergunta, a meu ver, deve ser bem outra: afinal onde estava o homem?
Sim, o homem, autor de todas as guerras e genocídios, desigualdades e injustiças, vendedor e explorador de irmãos, agressor permanente da terra-mãe, sugando-lhe a harmonia, a beleza e a vida até à exaustão, vivendo como se apenas ele existisse, num exílio de consumismo desenfreado e paranoico? Sim, onde está o homem que Deus criou semelhante a Si em dignidade e liberdade e a quem deu a terra para nela plantar um jardim para todos?
É pois ao homem e não a Deus que temos de perguntar como Ele um dia perguntou a Adão: “Afinal o que fizeste?”
E ele (o homem) escondeu-se na sua resposta. Sim, é a este homem adâmico que, por delírios de omnipotência sempre sonhou criar um mundo à sua dimensão intelectual que temos de dizer: “Dá contas da tua administração”. “Como chegaste até aqui?”
O COVID 19 não escapa ao agir incorreto e desordenado do homem que sempre gostou de ultrapassar os limites (ou os confinamentos) da sua liberdade criadora.
É aquele pequeno espaço entre o dedo de Deus e o dedo do homem que Miguel Ângelo tão bem soube plasmar no teto da Capela Sistina.
Então aí sim, se quiserem, podemos entrar no problema de Deus, não de um Deus qualquer resultante da razão, mas de um Deus revelado que não é distante nem castigador, mas misericordioso e bom e que chora com todos os sofredores da terra. Um Deus que não está fora, mas ao lado de cada um, fazendo história com cada qual, mesmo continuando crucificado, pois a “cruz” é o ato pleno do amor.
Mas agora o problema pode não ser já o do relacionamento do homem com Deus, mas o relacionamento de uns com outros.
Só que já não sei se o relacionamento autêntico, honesto e verdadeiro de uns com os outros possa existir na sua plenitude sem o relacionamento de cada um com Deus. Esta é a questão…
Mas se quisermos ficar apenas no horizontal, embora hoje seja pacífico dizer que o divino é por natureza universal e que a Fé e a Razão não são inconciliáveis mas complementares, então, dê-se o primeiro passo, dando autoridade política, jurídica e moral à Organização das Nações Unidas para que, sem vetos seja de quem for, possa ser o garante da solidariedade, da subsidiariedade e da paz em todo o mundo.
Como dizia o Cardeal Tolentino: “Este é o tempo de caminhar juntos redescobrindo o significado concreto de palavras como nação, humanismo, vida comum, confiança.
Este é o momento de olhar as estrelas”.
Temos que sair deste episódio dantesco mais responsáveis e mais comprometidos.