Advento: Hospital é lugar para «desembrulhar» nascimento de Jesus

Capelão fala da vivência da esperança junto de quem está em situação de fragilidade

Lisboa, 05 dez 2013 (Ecclesia) – O padre António Pedro Monteiro afirma que o ambiente num hospital pode ser o “lugar” onde a vida é repensada e onde o nascimento de Jesus, “embrulhado como um bom presente de Natal” acontece.

“A alegria do nascimento de Jesus vem embrulhada nesse fator surpresa que tantas vezes é despoletado por um toque, uma palavra, um processo de descoberta de sentido no meio da doença ou do trabalho”, explica à Agência ECCLESIA o sacerdote, que integra a equipa do Serviço de Assistência Espiritual e Religiosa (SAER) do centro hospitalar de Lisboa Norte.

O Hospital de Santa Maria, por onde passam diariamente 17 mil pessoas, entre pacientes, profissionais de saúde, assistentes administrativos e visitas às enfermarias, é local onde há um ano o padre António Pedro é assistente espiritual e, entre “silêncio e palavras”, procura acompanhar as pessoas em situação de fragilidade.

“Uma das coisas que se aprende e se ensina a quem integra a pastoral da saúde é a calar. Quando alguém que diz que está revoltado com Deus, que sente o abandono de Deus, não temos palavra para responder perante a verdade que é sentir isso”, explica à Agência ECCLESIA, assinalando a importância de não fazer catequese.

“Nessa altura quando mais humanizarmos mais evangelizamos. Chorar com os que choram também é evangélico”, acrescenta.

Num local onde as “sextas-feiras santas são o pão nosso de cada dia”, importa “humaniza-lo”, ajudando a encontrar a esperança e, se necessário, acompanhar na morte reconciliada.

“É complicado ser bem entendido, mas sentir alguém a morrer feliz, sentindo que viver vale a pena, são os episódios mais fascinantes e reconfortantes”, indica, recordando que também no Hospital se diz, tal como Maria no relato da Anunciação, «Faça-se em mim segundo a tua palavra».

Para a realização deste serviço é fundamental “a oração, o tempo pessoal de gestão dos sentimentos e histórias”, mas lembra o padre António Monteiro que o seu eixo é entender que Deus está na pessoa que diariamente visita em cada enfermaria.

“Se não me lembrar que vou visitar Deus e, por isso, se o vou visitar não preciso de ter Deus na boca a toda a hora porque não vou falar de Deus a Deus, mas sim escutá-lo – se não me lembrar disto – perco o que é o trabalho de uma Capelania, de um padre”, destaca o religioso dehoniano.

O sacerdote, em entrevista à Agência ECCLESIA, lamenta que os cristãos estejam “pouco habituados a falar de esperança” e da morte.

“Aprendemos muita coisa que não precisamos – a cozinhar porque nunca se sabe, a conduzir porque pode dar jeito. Apostamos o conhecimento em eventualidades e não somos educados para a única certeza que temos – vamos morrer. E, por isso, a morte chega como uma inevitabilidade”, refere.

O padre António Monteiro afirma que entender a fragilidade como “busca de sentido” ajuda a que a “surpresa de Deus, a Páscoa, aconteça”: “É possível e eu sei, com casos concretos de rostos e nomes, e daqui para a frente sei que vai continuar a ser assim – esses momentos pascais acabam por ser, em momentos de paixão, de dor e de morte, um encontrar de sentido”.

LS

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