«O Espírito Santo pode ser um instrumento importante para combater os extremismos» – Francisco Maduro Dias
Angra do Heroísmo, Açores, 06 jun 2025 (Ecclesia) – O presidente da Comissão Diocesana Justiça e Paz de Angra, Francisco Maduro Dias, afirma que a celebração açoriana do Espírito Santo “é uma festa da comunidade, uma festa de iguais e isso desafia as estruturas sociais”, marcado pelo individualismo.
“A festa do Espírito Santo é uma festa da comunidade, uma festa de iguais, e isso desafia as estruturas sociais, desafia tudo, pois o eu do tamanho do planeta terra, pelo menos nesta bolha que é o ocidente, que quase me inibe de estender a mão ao irmão com medo de que possa invadir a sua esfera privada, é ultrapassado pelo nós. Não há outra pessoa que não o nós”, disse Francisco Maduro Dias, citado pelo portal online ‘Igreja Açores’.
Segundo o historiador, na festa do Espírito Santo “a igualdade é obrigatória sem perda da identidade de cada um”, e sublinha que se vive e convive com os outros “de uma maneira comunitária”, não se é “igual ao outro por força de”, mas chamado a viver com o outro “e a olhar o outro como irmão, ombro no ombro, com ele”.
“É muito bonito pensar nisso neste domingo, pois o século XXI é marcado pelo individualismo e o direito de cada um olhar para o espelho e ver-se a si próprio e o que eu vejo em torno do Espírito Santo, mais do que um chamamento é uma obrigação de trabalhar junto, a ser junto, a construir junto”, desenvolveu, afirmando que o Espírito Santo pode ser “um instrumento importante para combater os extremismos”.
As festas do Espírito Santo, na Diocese de Angra, realizam-se por todo o Arquipélago dos Açores, todas as semanas, desde a Páscoa até ao Domingo de Pentecostes, este ano dia 8 de junho, ou a solenidade da Santíssima Trindade, no próximo dia 15.
Francisco Maduro Dias, que este ano é, pela primeira vez, mordomo das Festas do Divino Espírito Santo da Santa Casa da Misericórdia de Angra, explica que vê no Espírito Santo “uma enorme capacidade da população”, sobretudo nos Açores, “poder imaginar Deus na sua matéria mais imaterial”.
“Numa população que continua a não ser muito sabedora das coisas da religião, torna-se impressionante a forma como consegue ver Deus na sua completa definição de amor e ter tudo em todos; é uma marca da nossa forma de estar no mundo: marca cristã, religiosa, social e política no sentido de saber viver em sociedade”, explicou o investigador, que considera que precisam do Espírito Santo para se perceberem e afirmarem “como gente” que são.

O presidente da Comissão Diocesana Justiça e Paz de Angra acrescenta que esse reconhecimento “remete para o grupo e para a partilha”, e quando os sinais pedem para “cada um ficar no seu buraco, no seu eu, há uma festa do Espírito Santo que convida, quase obriga, a vir para a rua e a ser comunidade”.
“Tentação”, foi a forma como Francisco Maduro Dias referiu-se ainda à relação entre as Irmandades e a hierarquia da Igreja Católica, ao longo da história, e o poder político e este culto, mas o Espírito Santo “como espaço de liberdade absoluta que é, nunca se deixará domar”.
“É tão difícil a quem só vai à Igreja nos dias das coroações, como é difícil a quem está dentro da hierarquia compreender o que é este culto, esta lufada de ar fresco que todos os anos entra por portas na forma das coroações, e o que ele representa sobretudo numa sociedade onde o eu é o que vale”, concluiu o responsável pela Comissão Justiça e Paz da Diocese de Angra, citado pelo sítio online ‘Igreja Açores’.
Estas festas vão estar em destaque, este domingo (dia 8), no Programa ECCLESIA, na rádio Antena 1, pelas 06h07, e na entrevista semanal conjunta Ecclesia/Renascença, emitida e publicada aos domingos.
CB/OC