Os Açores são nove ilhas e não uma, espalhadas por 600 km de distância…
Alinho, abaixo, notas curtas sobre algumas coisas da minha lista particular, variadas como são as ilhas, profundas na sua relação íntima entre a fé, a religião e os lugares…, com a infeliz certeza de ser injusto. Por isso, mantenha os olhos abertos e o espírito curioso, quando andar por aqui.
Santa Maria
A capela dos Anjos, onde Colombo terá estado; o teatro do Espírito Santo, na freguesia de Santo Espírito, dos mais simples das ilhas e dos mais primitivos. Claro que pode e deve visitar a Matriz de Vila do Porto e contemplar a belíssima fachada de pedra da ilha, da igreja da freguesia de Santo Espírito.
São Miguel
Evidentemente que deve tentar visitar o antigo Convento da Esperança, onde se guarda a imagem sagrada e respeitadíssima do Senhor Santo Cristo dos Milagres, devoção maior, nas ilhas. Não deixe, porém, de entrar e deixar-se ficar, um bocadinho que seja, na Matriz de São Sebastião, em Ponta Delgada, de tentar visitar o conventinho da Caloura e, por favor, vá dar uma olhadela à chamada igreja dos Passos, na Ribeira Grande, primor barroco.
Terceira
Só Angra do Heroísmo, sede da Diocese, teve oito mosteiros, conventos e colégio da Companhia de Jesus. Cinco coisas, das muitas: A Sé, com uma linda estante de cantochão, em estilo indo português, mas com madeira do Brasil e embutidos de material ebúrneo de cachalote. É um trabalho açoriano; O órgão de Machado Cerveira, na Igreja de S. Francisco; Os frescos do século XVI – únicos nestas ilhas – na matriz de São Sebastião, redescobertos nos anos 50 do século XX; A imagem do Imaculado Coração de Maria da escultora portuense Irene Vilar, na igreja paroquial dos Biscoitos; o altar da família de Francisco Ornelas da Câmara, peça do barroco quinto joanino, na Matriz da Praia da Vitória.
Graciosa
Hesito entre dizer-lhe para subir ao monte da Ajuda e deambular por entre as três ermidas que o coroam ou visitar a Matriz e contemplar o políptico de pintura sobre madeira, atribuído ao mestre de Arruda dos Vinhos, raro conjunto, pela época recuada e qualidade, de toda a pintura religiosa nas ilhas. É melhor visitar os dois locais.
Faial
A Matriz da Horta, que é a antiga igreja do colégio jesuíta, alberga outra estante de cantochão, parente da da Sé de Angra. Há, aqui, mais um altar com frontão em prata que vale a pena olhar. Ao cimo da cidade, mas vale a pena subir, vá sentar-se um bocado a ver o lindíssimo retábulo do altar do Santíssimo, da igreja do antigo convento do Carmo. Se puder, tente ainda ver a coroa do Espírito Santo da freguesia dos Cedros. É diferente das que conhece.
Pico
A ilha é grande, mas deixo-lhe três sugestões: A imagem do Senhor Bom Jesus Milagroso, em São Mateus do Pico, o templo do antigo convento de S. Pedro de Alcântara, no Cais do Pico, concelho de S. Roque, e visite a Criação Velha onde a simplicidade do edifício do império do Espírito Santo contrasta com a riqueza das suas festas em honra do Paráclito.
São Jorge
pode deambular pela ilha e verá coisas lindas, mas deixo-lhe uma recomendação. Visite, com calma e tempo, a igreja de Santa Bárbara das Manadas. Quando lhe perguntarem por exemplos do modo de ser ilhéu, fale-lhes do que viu, neste templo, ancorado numa plataforma junto ao mar e encostado à imperiosa falésia da ilha.
Flores
Duas coisas: igreja do antigo convento franciscano, hoje integrada no museu e – escolha a que quiser – uma Casa do Espírito Santo. Aqui, no grupo ocidental dos Açores, são casas quase iguais às outras, apenas ostentando, na parede, uma bonita coroa esculpida em pedra. É como se o Espírito quisesse confirmar que permanece entre as gentes de cada lugar, habitando uma casa como as suas.
Corvo
A pequenina igreja Matriz guarda duas lindas curiosidades. O pesado rosário de oiro, ao que consta oferta do pirata Almeidinha à padroeira da ilha e uns bancos que, como muita coisa nos Açores, “vieram da América”. Estranhos, mas muito confortáveis, a vontade dos corvinos fez com que viessem de uma antiga sinagoga encerrada e hoje embelezam a igreja da mais pequena ilha dos Açores.
Francisco Maduro-Dias
Museólogo
(Presidente da Comissão Diocesana Justiça e Paz)