Acção Católica, memória viva

Historiador Paulo Fontes apresenta estudo científico sobre o papel da instituição na Igreja e na sociedade do século XX A Acção Católica (1933-1974) é ainda hoje, para muitos católicos no nosso país, uma referência do “ser Igreja” e não poucos recordam com saudade o dinamismo e a capacidade de mobilização do laicado ao longo de várias décadas do século passado. Paulo Fontes, membro do Centro de História Religiosa (CEHR) da Universidade Católica Portuguesa (actualmente desempenha funções de secretário) apresentou hoje em Lisboa a sua dissertação de Doutoramento sobre o papel da Acção Católica na Igreja e na sociedade do século XX, assumindo um “método caleidoscópico”, com o qual quis procurar “compreender, a partir do fenómeno religioso, a sociedade portuguesa” de então. Para D. Manuel Clemente, presidente do CEHR e um dos membros do júri, é importante destacar esta “primeira obra científica” sobre a Acção Católica, fenómeno que, depois de Fátima, mais determinou o catolicismo português do século que passou. Paulo Fontes defende que a Acção Católica “não foi apenas um projecto ideológico, mas uma forma de envolvimento e participação, com racionalidade e afectividade”. Daqui a importância de elementos como as bandeiras, os hinos, os emblemas, os cartões de militantes ou as quotas. A Acção Católica pode ser definida, de forma genérica, como a forma organizada de apostolado dos leigos que, no seguimento dos movimentos cató­licos do séc. XIX, foi incrementada por Pio XI, alcançando grande implantação sobretudo nos países católicos latinos. Em Portugal, a Acção Católica, criada pelo Episcopado em 1933, incluía duas dezenas de “organismos” especializados por sexos, idades e meios sociais, coordenados por quatro “organizações” e por uma “Junta Central”, chegando a contar 100 mil associados na década de 50. Num contexto de grande tensão entre vários sectores do Catolicismo e nas relações Igreja-Estado há figuras e acontecimentos que marcam esta história, como António Ferreira Gomes, Bispo do Porto, o I Congresso da JOC em 1955, com o regime a proibir a publicação das conclusões, ou, em 1950, o I Congresso dos Homens Católicos, no qual uma intervenção de um congressista da LOC levou o ministro da justiça a abandonar o congresso. (Re)cristianizar No início da Acção Católica Portuguesa (ACP) havia o propósito declarado de uma “reconquista cristã da sociedade”. Assim, a estrutura caracterizava-se por grande unidade interna, autonomia organizativa e pela vontade de influir na sociedade. A vontade de actuar “acima de todas as correntes políticas” ficou expressa, desde logo, nas Bases Orgânicas da ACP. Paulo Fontes procura recentrar o estudo da Acção Católica como movimento religioso (não só social), nomeadamente a partir da Teologia do Corpo Místico de Cristo. O Bispo Eleito do Porto, D. Manuel Clemente, sublinhou este aspecto e falou na necessidade de olhar para a ACP na “evolução, seguimento e contraste com as práticas eclesiológicas gerais”. Nesse sentido, apontou, há uma “novidade relativa”, dado todo o dinamismo já evidenciado pelo Movimento Católico Português, décadas antes, que redifiniu a Igreja no mundo liberal. “O laicismo levou a uma radicalização defensiva do mundo católico e quase esqueceu o que se ensaiara antes”, explicou o presidente do CEHR, para quem é necessário “não perder a memória do nosso Movimento Católico Português”. Com orientação de Manuel Braga da Cruz, Reitor da UCP, a disertação de Doutoramento do historiador Paulo Fontes aponta para as diferenças de contexto e de institucionalização entre o Movimento Católico e a ACP, sendo que com esta última se formou um “escol”, intervindo simultaneamente junto das “massas” populares, em ordem à “restauração católica” do país.

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