Academia Portuguesa da História com novo membro

O Pe. Joaquim Correia Duarte, sacerdote de Lamego, investiga as raízes históricas do concelho de Resende Ao observar os muitos solares existentes na região de Resende (diocese de Lamego), o Pe. Joaquim Correia Duarte sentiu “o bichinho de descobrir a história daqueles palacetes e das pessoas que lá viveram”. Ao lado das casas brasonadas estavam “casas muito pobres” e notava-se “muitas assimetrias”. Com o patrocínio da Câmara de Resende publicou vários livros sobre a história da região e, recentemente, recebe a notícia da nomeação para a Academia Portuguesa da História (APH). Em declarações à Agência ECCLESIA, o Pe. Joaquim Duarte realça que esta nomeação “não é um prémio” mas “um estímulo”. Apesar de ser pároco no arciprestado de Resende, este sacerdote com 66 anos de idade sempre gostou da área da História e chegou a leccionar esta disciplina no ensino oficial. “Tirei o curso – como voluntário – na Faculdade de Letras, no Porto, sem ter ido a uma aula” – realçou. O salto para a ribalta deu-se quando um professor do Porto e membro da Academia Portuguesa da História encontrou alguns exemplares dos livros do Pe. Joaquim Duarte, numa feira em Vila do Conde. “Achou-os interessantes e mostrou-os aos colegas da Academia”. Depois da leitura das obras apresentaram a candidatura – “foi aceite por unanimidade pelos académicos de número” – e, posteriormente, recebeu a notícia da eleição no passado dia 14 de Fevereiro. A Academia Portuguesa da História, instituição científica estatal, criada pelo Decreto-Lei n° 26611, de 19 de Maio de 1936 é a legítima herdeira da mais antiga Academia nacional – a Academia Real Portuguesa da História – fundada por D. João V, conforme decreto de 8 de Dezembro de 1720. “Tive a sorte de todos os académicos votarem a favor da minha entrada nesta instituição”. E acrescenta: “só pode ser uma graça de Deus”. Com a finalidade de realizar a investigação científica da história e tornar públicos os seus resultados; Estimular e coordenar esforços tendentes ao rigoroso conhecimento da história nacional, no sentido de esclarecer a contribuição portuguesa para o progresso da Cultura e da Civilização e Promover a publicação sistemática de fontes documentais que interessem à História portuguesa, a APH é constituída por Académicos de Número – “têm direito de votar as admissões” – e os Académicos Correspondentes. Hoje, poderá definir-se como uma «agremiação de especialistas que se dedicam à reconstituição documental e crítica do passado», sendo igualmente o órgão consultivo do Governo na matéria da sua competência» (art°. 3 dos respectivos estatutos). Tem a seguinte constituição: Académicos de Número: 30 de nacionalidade portuguesa e 10 de nacionalidade brasileira. Académicos Correspondentes: 80 de nacionalidade portuguesa; 20 de nacionalidade brasileira; 10 de outros países de expressão portuguesa e 80 de outros países estrangeiros. A paixão pela História Com o processo n.º 711, o Pe. Joaquim Duarte salienta que ficou “surpreendido com o número tão reduzido de académicos” que pertencem ou pertenceram à APH nestes trezentos anos. Com cinco livros de história – dois volumes «Resende e a sua história»; «Resende na Idade Média»; «Resende no século XVIII» e «Casas e Brasões de Resende» -, o Pe. Joaquim Duarte enveredou pelo romance. “Estive à beira do descolamento da retina porque são horas e horas nos arquivos”. A investigação exige “muita leitura com lupa” e “quem sofre são os olhos” – afirmou. Devido a esta dificuldade visual lançou-se no romance e já publicou «Uma carta que chegou tarde demais» e “tenho no prelo «As meninas da comenda». A história eclesiástica nunca foi o “meu forte” visto que “nunca tive muito incentivo”. E adianta: “a história da diocese está feita”. Com uma vida preenchida e com muitas tarefas, o novo membro da APH esclarece que não passa “tempo nos cafés”. Os tempos livres são passados em casa, bibliotecas, arquivos. “Todo o tempo disponível é dedicado à história”. A tese de doutoramento não está nos seus horizontes. “Sou pároco e gosto de ser pároco”. Com várias actividades pastorais e extra pastorais – “organizei um rancho folclórico na região e construí uma residência paroquial” – o Pe. Joaquim Duarte admite que não tem tempo para mais. “Durmo seis horas por dia, o que dá capacidade para aguentar o trabalho”. A história “é uma paixão” e a investigação destes temas “dão-me um gozo enorme”. Recentemente, o sacerdote da diocese de Lamego fez estudos sobre o Seminário de Resende e a Misericórdia. “A relação de Eça de Queiroz com Resende” foi também o tema de uma conferência . Com a entrada na Academia, o Pe. Joaquim Duarte disse que terá de voltar à investigação. “Estou a pesquisar sobre os foros e costumes de S. Martinho de Mouros”. Em Portugal existiam apenas quatro ou cinco concelhos com o “Direito local escrito”. E adianta: “no século XIV não existia Código Civil”. Estudar as romarias Para além da história local, o novo membro da APH também investiga os fenómenos ligados às romarias. “Ouvi muitas pessoas antigas – testemunhos orais – sobre a Feira Anual de S. Miguel, feriado municipal”. Primeiro nos enormes e frondosos soutos do lugar de Vinhós, antiga sede do Concelho; depois, no lugar da Feira, na nova Vila de Resende. O dia de S. Miguel Arcanjo marcava antigamente, e ainda marca hoje, o final das colheitas agrícolas e a mudança de caseiros: um caseiro deixava uma quinta (por não querer mais “fazê-la” ou por ter sido despedido pelo patrão) e outro tomava conta dela. Por essa razão, e porque era preciso avaliar os animais da quinta, vendê-los ou comprá-los, se realizava em cada ano, no dia certo, a Feira de S. Miguel. Nos meados do século passado, alguns funcionários na Câmara Municipal quiseram ampliar a festa, levando a efeito, no pátio da antiga Câmara ou Largo do Concelho, uma noitada com luzes, fogo de artifício e baile popular. No ano seguinte, tendo a noitada sido um êxito e sendo exíguo o pátio da antiga Câmara, mudou-se a festa para o Jardim Municipal e, começando as noites de fim de Setembro a ficar frias e escuras, os promotores da festa decidiram acender fogueiras no meio do Jardim Municipal. Todo o povo achou graça às tais fogueiras e, sem ordem ou conselho de ninguém, passou a chamar às festas do concelho, «Festa das Labaredas». Os versos eram frequentes e, no ramo do manjerico, estavam as quadras. «Labareda, labareda, Como tu nos fazes bem! Não deixes que a minha eleita Dê beijos a mais ninguém!»

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