Abusos Sexuais: Vaticanista mexicana dá «puxão de orelhas» a bispos e cardeais pela gestão mediática dos casos

Valentina Alazraki convidou todos a «unir forças» contra os «verdadeiros lobos»

Octávio Carmo, enviado da Agência ECCLESIA ao Vaticano

Cidade do Vaticano, 23 fev 2019 (Ecclesia) – A vaticanista mexicana Valentina Alazraki pronunciou hoje a última conferência na cimeira dedicada à proteção de menores, convocada pelo Papa, criticando a gestão mediática que a hierarquia católica fez dos casos de abusos sexuais.

A jornalista, correspondente da Televisa no Vaticano há 45 anos, falou durante mais de meia hora, convidando os presentes – responsáveis da Cúria Romana, colaboradores do Papa, presidentes de Conferências Episcopais e superiores de institutos religiosos – a “unir forças” com os profissionais dos media, contra os “verdadeiros lobos”, os abusadores.

A intervenção deixou aos presentes três conselhos para a sua comunicação nestes casos: colocar as vítimas em primeiro lugar; deixar-se aconselhar por especialistas; e profissionalizar os serviços de comunicação.

“As vítimas não são números, não fazem parte de uma estatística, são pessoas a quem destruíram as suas vidas, sexualidade, afetividade, confiança noutros seres humanos, talvez até mesmo em Deus, bem como a capacidade de amar”, assinalou.

Valentina Alazraki, terceira mulher entre os nove oradores do encontro, insistiu na ideia de ser melhor comunicar “do que calar ou até mentir”, porque a verdade terá sempre menos custos.

“O silêncio sai muito mais caro do que enfrentar a realidade e torná-la pública”, observou.

A jornalista sublinhou que, perante eventuais casos polémicas, a reação nunca pode ser a de não comentar, dado que isso abre portas a que a informação seja dominada por “terceiros”, alimentando a “sensação” de que existe algum tipo de culpa.

O discurso aludiu a uma nova crise que se vislumbra no horizonte, a dos abusos sexuais de religiosas por padres e bispos.

“Pode ser uma oportunidade para a Igreja tomar a iniciativa e estar na linha de frente, na denúncia desses abusos que não são apenas sexuais, mas também abusos de poder”, assinalou a vaticanista mexicana.

A especialista lamentou que alguns membros da hierarquia católica consideram que a crise dos abusos sexuais é “culpa da imprensa” ou um “complô”.

“Os jornalistas não são nem os abusadores nem os encobridores”, apontou.

Classificando os abusos de menores como “crimes”, a jornalista desafiou os presentes a escolher o lado das vítimas e não dos “abusadores”.

Se não se decidirem, de forma radical, a estar do lado das crianças, das mães, das famílias, da sociedade civil, têm razões para ter medo de nós, porque os jornalistas, que queremos o bem comum, seremos os vossos piores inimigos”.

Valentina Alazraki admitiu que a “transparência tem os seus limites”, pelo que se deve respeitar a privacidade da investigação prévia, que deve ser feita com “celeridade” e no respeito pelas leis civis, comunicando depois todos os passos dados no processo.

A jornalista foi recebida com aplausos na sala de imprensa da Santa Sé, após a sua intervenção.

OC

A reportagem em Roma no Encontro sobre Proteção de Menores na Igreja é realizada em parceria para a Agência Ecclesia, Família Cristã, Flor de Lis, Rádio Renascença, SIC e Voz da Verdade.

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