Presidente da CEP assume indemnizações a vítimas que decorram da lei portuguesa e afirma que o Vita é um grupo de «intervenção»
Lisboa, 30 abr 2023 (Ecclesia) – O presidente da Conferência Episcopal Portuguesa afirmou que o Grupo Vita vai atuar na “intervenção” em situações de abuso de menores e na prevenção, assumiu as indemnizações que decorrem da lei portuguesa e preocupa-se sobretudo porque existiram “casos”.
“Não me preocupa o escândalo, preocupa-me que tenham existido esses casos” de abuso de menores, afirmo D. José Ornelas em entrevista à Agência Ecclesia e à Agência Lusa.
Para o bispo de Leiria-Fátima, a “credibilidade” da Igreja não fica ferida por se conhecerem casos de abuso sexual e por ter tido “a coragem de chamar as coisas pelo seu nome e de agir”.
“O pior seria eu cometer uma asneirada e, para me defender, continuar a encobri-la ou simplesmente dissimulá-la. Quem quiser outro tipo de credibilidade vá à vontade, comigo não pega”, afirmou
“A credibilidade vem da busca da verdade das coisas para se encontrar soluções. A atual fase é precisamente a da intervenção e é para isso que aí estamos”.
Aceitando o “desconforto” de algumas pessoas que questionam a iniciativa da CEP de ter criado uma comissão independente para investigar situações de abuso no passado, D. José Ornelas afirma que “foi julgada absolutamente necessária” nesta época, com o “objetivo de permitir conhecer a realidade, concretamente na Igreja”.
“Eu não posso dizer se os tais quinhentos e tal casos de pessoas que contactaram a comissão são muitos ou poucos. Eu só sei que qualquer um é um drama”, sustentou
D. José Ornelas disse também que sempre mantiveram contacto com “as instâncias que tratam estes assuntos na Santa Sé, concretamente o Dicastério para a Doutrina da Fé” e garantiu que os dados recolhidos pela CI vão permanecer “devidamente acautelados”, respeitando a autoria do estudo, e tendo em conta que foi pedido pelo episcopado português.
Na entrevista realizada no contexto da reeleição para a presidência da CEP, D. José Ornelas garantiu que “as pessoas que foram abusadas, em ambiente de Igreja, vão ter a ajuda necessária”, nomeadamente as indemnizações que decorram “de um processo jurídico”, referindo que “as dioceses vão assumir os casos que estão ligados a elas”.
“O que nós dizemos é que ninguém vai ficar sem ajuda para aquilo que é justo e para a sua vida, mesmo que, ou porque não se fez um processo ou porque o abusador não tem meios para isso. O que nós vamos fazer é disponibilizar ajuda! É por isso que não pomos em termos jurídicos. Se for em termos jurídicos, é evidente que vai haver um processo e é evidente que nós não estamos acima da lei”.
O presidente da CEP referiu-se também aos casos de abuso nas Congregações Religiosas, que resultaram numa lista de 17 nomes entregue pela ex-Comissão Independente na Assembleia da Conferência dos Institutos Religiosos de Portugal (CIRP) na última quinta-feira, valorizando o facto de fazerem parte do mesmo estudo, que permitiu conhecer a “a realidade no seu conjunto”.
Após o estudo sobre os abusos sexuais na Igreja Católica em Portugal desde 1950 até à atualidade, realizado por uma Comissão Independente durante o último ano, a CEP criou o Grupo Vita, que vai atuar durante os próximos 3 anos na “intervenção” em situações de abuso e na sua prevenção, contando para isso com uma “organização preferentemente laical e competente”.
“Entramos num processo operativo e, por isso, este grupo que, nos próximos dois ou três anos, vai ser uma parte muito significativa da intervenção porque vai preparar a Igreja para estar atenta, para acolher casos eventuais que vão acontecendo, para tratá-los convenientemente, para ir ao encontro dessas pessoas e dos outros que vêm do passado”, afirmou.
Não pode ficar fora da preocupação e do propósito da Igreja tirar conclusões daquilo que se conheceu e agir preventivamente e em face de qualquer caso que apareça.
Na entrevista à Agência Ecclesia e à Agência Lusa, D. José Ornelas garantiu que as pessoas que integram o Grupo Vita “vão ter uma caracterização de independência e de profissionalismo” e há equipas “implicadas” no tratamento de vítimas de abuso, num trabalho feito com “toda a descrição”.
“Passar por estes processos não é fácil e tem de se garantir que isto é feito com a descrição própria que estas situações requerem”, afirmou.
PR