Abusos Sexuais: Centro para a Proteção de Menores da Universidade Gregoriana prepara religiosos e leigos dos cinco continentes

Estrutura já formou 2 mil alunos na salvaguarda das crianças

Foto: Ricardo Perna/Família Cristã

Roma, 26 fev 2019 (Ecclesia) – A Universidade Pontifícia Gregoriana, em Roma, está a formar religiosos e leigos dos cinco continentes para a prevenção e combate de abusos sobre crianças, através do seu Centro para a Proteção de Menores.

Katharina Fuchs, responsável pela formação, refere que a proposta da estrutura de ensina aborda “todos os abusos e todo o tipo de violência: sexual, psicológica, física, emocional, ou mesmo a negligência contra as crianças”.

Segundo a docente, a maior parte dos alunos chega com a preocupação de “prevenir casos nas suas próprias organizações ou dioceses, e saber como intervir se um abuso já tiver ocorrido”.

A Gregoriana, cujo reitor é o padre jesuíta português Nuno Gonçalves, oferece dois cursos presenciais, com propostas que se devem depois adaptar nos diversos territórios, para a salvaguarda dos menores.

“Sabemos que há programas muito bons a decorrer já nos Estados Unidos ou na Irlanda, mas não podemos simplesmente pegar neles e levá-los para a Alemanha, Portugal ou Tonga, porque não resultaria. Não é uma questão de língua, mas da adaptação cultural a realidade”, observa Katharina Fuchs.

O programa do Centro para a Proteção de Menores já formou 2 mil alunos de todo o mundo, trabalhando ainda com universidades que implementam alguns dos conteúdos nos seus cursos.

Foto: Ricardo Perna/Família Cristã

A irmã Jane Nway Nway Ei, religiosa da congregação de Nossa Senhora da Caridade do Bom Pastor, de Mianmar, é uma das alunas, confessando a sua “raiva” quando os abusos acontecem em contexto eclesial.

A religiosa lamenta a “cultura do silêncio” que domina a antiga Birmânia, onde a sua congregação tem abrigos temporários para acolher menores abusados.

Os casos dizem respeito, sobretudo, a “abusos sexuais de pessoas traficadas, principalmente jovens que são traficadas para a China e Tailândia”.

O padre Sione Hamala, religioso da Sociedade de Maria, é natural de Tonga e sublinha a experiência particular nas ilhas do Pacífico, com “muitas culturas orientadas para se protegerem pelo silêncio”.

“As pessoas sabem que acontece na família, mas ninguém fala sobre isso. Numa casa em que moram famílias com muitos filhos, sabe-se que acontece, mas ninguém fala. Não é aceite, mas há muito medo da reputação e da dignidade da família”.

O religioso sublinha que, ao contrário do que acontece noutros locais, nalgumas ilhas do Pacífico é impossível levar as pessoas abusadas num abrigo.

“Se colocarmos as vítimas num abrigo, do outro lado da ilha, quase que dá para as vermos na mesma e o contacto com os abusadores é inevitável”, lamenta.

O presidente do Centro para a Proteção de Menores, padre Hans Zollner, integrou a comissão organizadora da cimeira que o Papa promoveu no Vaticano, de 21 a 24 de fevereiro, reunindo responsáveis de conferências episcopais, institutos religiosos e organismos da Cúria Romana.

RP/OC

A reportagem em Roma é realizada em parceria para a Agência Ecclesia, Família Cristã, Flor de Lis, Rádio Renascença, SIC e Voz da Verdade.

 

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