Abusos sexuais: Arcebispo de Évora destaca «obrigação da Igreja de ir à frente» na resolução deste problema

«O direito das crianças à vida e ao crescimento saudável deve ser retomado todos os dias, na nossa cidadania», diz D. Francisco Senra Coelho  

Évora, 25 fev 2019 (Ecclesia) – O arcebispo de Évora espera que a cimeira que decorreu até este domingo no Vaticano, sobre abusos sexuais e proteção de menores, conduza a um caminho de “purificação no seio da Igreja” e ajude a erradicar um problema que é “transversal” na sociedade.

Em declarações enviadas hoje à Agência ECCLESIA, pelo gabinete de comunicação da arquidiocese alentejana, D. Francisco Senra Coelho frisou a importância de a Igreja trabalhar “para que esta chaga tremendamente infeliz e vergonhosa não se repita”.

“Esta cimeira é um desafio à vigilância constante, à formação atenta, ao acompanhamento cuidado. E é esse esforço que quero fazer como bispo, e que me comprometo com a Arquidiocese de Évora a seguir, vivendo cada momento, cada interpelação, cada orientação do Papa e da Santa Sé, em transparência, coerência e colaboração com todas as autoridades competentes”, apontou o responsável católico.

Na sua abordagem a esta problemática, D. Francisco Senra Coelho salientou três outras palavras fundamentais, que deverão alimentar a ação da Igreja Católica – “solicitude, clareza e responsabilidade” – com a consciência de que o “drama” do abuso sexual de menores “não se restringe” às estruturas católicas.

“A Igreja tem obrigação de ir à frente, tem de dar um passo acertado. Infelizmente foi tocada de um modo muito sério e lamentável por este problema, mas é um problema muito abrangente. O direito das crianças à vida e ao crescimento saudável deve ser retomado todos os dias, por todos nós, na nossa cidadania”, sustentou o arcebispo de Évora.

O prelado acrescentou que esta posição não significa “um querer descartar ou assobiar para o alto” relativamente à questão dos abusos sexuais cometidos contra menores, no meio da Igreja.

“É sim dizer que, resolvendo o problema na Igreja, ele não fica resolvido na humanidade. Este é um compromisso transversal e básico de toda a cidadania, e por isso também de todos os católicos e da Igreja hierárquica”, completou.

O arcebispo de Évora fez estas declarações este domingo, na Paróquia de Nossa Senhora de Fátima, onde presidiu à ordenação diaconal de Paulo José Garcia da Fonseca, de 52 anos.

Durante a celebração, D. Francisco Senra Coelho declarou a sua “união ao Papa e ao Colégio Episcopal na responsabilidade, na dor e na vergonha” pela problemática dos abusos e pediu “a cada cristão a comunhão na oração reparadora por estes pecados gravíssimos, e no respeito, a solidariedade devida pela justiça e pela humanização cada vítima”.

A cimeira inédita convocada pelo Papa Francisco sobre proteção de menores decorreu no Vaticano entre 21 e 24 de fevereiro, e contou com a presença de 190 participantes, desde bispos, religiosos e leigos dos cinco continentes a várias vítimas de abusos sexuais, que deixaram o seu testemunho.

No final do evento, que contou com a presença de vários representantes da Igreja Católica em Portugal, incluindo o presidente da Conferência Episcopal Portuguesa, D. Manuel Clemente, o Papa frisou que “chegou a hora” de “erradicar” este problema da Igreja e da sociedade.

Francisco destacou ainda 8 prioridades ou linhas mestras que deverão orientar as estruturas católicas na luta contra esta “monstruosidade”.

Dar prioridade à “proteção das crianças”, abordar esta questão com “seriedade”, buscar uma verdadeira “purificação”, redobrar a atenção dada à “formação” afetiva e humana de quem trabalha na Igreja, “reforçar e verificar as diretrizes das Conferências Episcopais”, “acompanhar as pessoas vítimas de abusos”, ter mais em conta desafios como o “mundo digital” e o “turismo sexual”.

JCP

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