Abusos «desfiguraram» o sacerdócio

Papa escreve aos seminaristas de todo o mundo, pedindo atenção ao amadurecimento da personalidade

Bento XVI reconheceu esta Segunda-feira, 18 de Outubro, que os recentes casos de abusos sexuais de crianças e adolescentes por membros do clero “desfiguraram” o sacerdócio.

O Papa fala com “grande mágoa” destas situações numa carta que enviou aos seminaristas de todo o mundo, no dia da festa de São Lucas, Evangelista, poucos meses depois do final de um ano dedicado aos sacerdotes, na Igreja Católica.

“O sucedido deve tornar-nos mais vigilantes e solícitos, levando precisamente a interrogarmo-nos cuidadosamente a nós mesmos diante de Deus ao longo do caminho rumo ao sacerdócio, para compreender se este constitui a sua vontade para mim”, assinala.

Para Bento XVI, alguns padres, “com os seus abusos, provocaram devastações, pelas quais sentimos profunda pena e desgosto”.

Quem se prepara para o sacerdócio nos seminários, escreve o Papa, pode ter questionado “se é bom fazer-se sacerdote, se o caminho do celibato é sensato como vida humana”.

“Mas o abuso, que há que reprovar profundamente, não pode desacreditar a missão sacerdotal, que permanece grande e pura”, indica Bento XVI, para quem cada padre deve “levar as pessoas a uma humanidade madura e servir-lhes de exemplo”.

Numa carta em que o Papa expressa a sua preocupação com todos os futuros sacerdotes católicos, pode ler-se que “os anos no Seminário devem ser também um tempo de maturação humana”.

Bento XVI defende a “integração da sexualidade no conjunto da personalidade”, deixando um alerta: “Quando não é integrada na pessoa, a sexualidade torna-se banal e ao mesmo tempo destrutiva”.

A missiva apresenta várias reflexões pessoais do Papa, que lembra um episódio ocorrido em Dezembro de 1944: “Quando fui chamado para o serviço militar, o comandante de companhia perguntou a cada um de nós a profissão que sonhava ter no futuro. Respondi que queria tornar-me sacerdote católico”.

O jovem Joseph Ratzinger ouviu então que “na nova Alemanha, já não há necessidade de padres” e agora o Papa reconhece que “de vários modos, mesmo nos nossos dias, muitos pensam que o sacerdócio católico não seja uma «profissão» do futuro, antes pertenceria já ao passado”.

Esta ideia é contrariada, na prática, por quem optou por entrar num seminário, a quem Bento XVI aconselha “o estudo da teologia” com “diligente sensibilidade”, com a consciência de que “sem a Igreja que crê, a teologia deixa de ser ela própria e torna-se um conjunto de disciplinas diversas sem unidade interior”.

“Os homens sempre terão necessidade de Deus – mesmo na época do predomínio da técnica no mundo e da globalização –, do Deus que Se mostrou a nós em Jesus Cristo e nos reúne na Igreja universal, para aprender, com Ele e por meio d’Ele, a verdadeira vida e manter presentes e tornar eficazes os critérios da verdadeira humanidade”, diz o Papa.

“Para nós, Deus não é uma hipótese remota, não é um desconhecido que se retirou depois do «big-bang»”, prossegue.

O seminário, acrescenta a carta, “é o período em que aprendeis um com o outro e um do outro”.

“Com estas linhas, quis mostrar-vos quanto penso em vós precisamente nestes tempos difíceis e quanto estou unido convosco na oração”, conclui Bento XVI.

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