Abertura do comércio ao Domingo perturba vida familiar

Manifestou D. Jorge Ortiga aos representantes das associações comerciais do Minho O presidente da Conferência Episcopal Portuguesa, D. Jorge Ortiga, manifestou-se ontem preocupado com a abertura do comércio aos Domingos porque, na sua opinião, perturba a vida familiar. D. Jorge Ortiga, que recebeu em audiência as associações comerciais dos distritos de Braga e de Viana do Castelo e o presidente da Confederação de Comércio e Serviços de Portugal, mostrou-se também preocupado com o desemprego que afecta o sector, realçando não ser para ele uma surpresa os números que lhe foram apresentados e que, segundo os quais, nos últimos três anos, o comércio perdeu quase 55 mil empregos. No final da reunião, o prelado disse estar inquietado com este cenário de desemprego. «Falando com outras pessoas, ouve-se dizer que, concretamente, as grandes superfícies são um novo espaço de emprego. O que é certo é que, os números provam o contrário. E, por outro lado, todos vão reconhecendo que a implantação destas grandes superfícies é a certeza de menos capacidade de emprego no comércio tradicional », disse. O Arcebispo de Braga confessou que este é um cenário que não lhe é estranho, sobre o qual tem falado várias vezes. «A questão do desemprego é uma preocupação que gostaria que estivesse presente na missão da Igreja, naquilo que pode fazer, que é o anúncio de uma vida digna para toda e qualquer pessoa, o direito ao trabalho para essa vida digna e, para além do anúncio, porventura também a denúncia das situações quando delas temos conhecimento», realçou. No encontro com os jornalistas, D. Jorge Ortiga considerou ainda encarar o trabalho ao domingo como uma perturbação à vida familiar. «A família tem necessidade de se encontrar tranquilamente para dialogar e conviver e, as grandes superfícies abertas poderão parecer que são espaços onde as crianças gostam de estar, mas é tudo no meio de um barulho, de toda uma confusão enorme e imensa», sustentou. Para o presidente da Conferência Episcopal Portuguesa, a família precisa é de espaços onde pais e filhos possam brincar e dialogar e não de estarem num «ambiente de pressão publicitária, a que obriga, muitas vezes, a compras desnecessárias nesta sociedade de consumo». «Se a Igreja caminha com as pessoas, naturalmente também está procurando conhecer a real situação do comércio e, por isso mesmo, manifestei esta solidariedade, não no sentido de uma preocupação política, que me ultrapassa e me transcende, mas pura e simplesmente numa dimensão humana, tentando defender e lutar pelo trabalho e dignidade de vida de quem vive do comércio », realçou. Comércio perdeu 50 mil empregos O presidente da Confederação de Comércio e Serviços de Portugal (CCP) disse, por sua vez, ter aproveitado esta reunião para manifestar as preocupações do sector, dando sobretudo ao presidente da Conferência Episcopal Portuguesa uma visão das inquietudes a nível social. Segundo José António Silva, depois dos sectores primário e secundário terem registado perdas de emprego, agora também o sector terciário está a «entrar claramente em colapso». Para o presidente da CCP, desde que entrou em vigor a Lei 12/2004, que tem aprovado as grandes superfícies, o comércio perdeu 14 mil empregos em 2005, 20 em 2006 e outros 20 mil no primeiro semestre de 2007. Ou seja, «em dois anos e meio o saldo líquido de perda de emprego é de 50 mil postos de trabalho», prevendo-se que dentro de três anos a situação se agrave em mais cem mil postos de trabalho. A estes números, acrescentou, há ainda a juntar 20 mil pequenas empresas que desapareceram, cujos responsáveis não têm direito a protecção social. «Estamos perante uma situação que é claramente dramática », disse, vaticinando que em Portugal, com as grandes superfícies comerciais licenciadas, estas PME deverão ter uma quota no mercado em 2011 de sete ou oito por cento, quando a média na Europa é de 16 por cento. Por outro lado, José António Silva criticou ainda a abertura do comércio aos domingos, considerando que Portugal é dos poucos países europeus a adoptar esta medida. Segundo referiu, em 90 por cento dos países europeus o comércio está fechado ao domingo. Assim, «a CCP não defende que não haja desenvolvimento, não haja modernização, não haja grandes distribuições, mas somos a favor dos equilíbrios dos vários formatos de comércio, que estão claramente ameaçados neste momento», defendeu.

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Agência ECCLESIA

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