A Visita ad Sacra Limina: uma experiência

D. Manuel Franco Falcão, Bispo Emérito de Beja É venerável tradição, que vem do século IV, irem os Bispos de todo o mundo, em tempos determinados, peregrinar a Roma, para aí venerarem os sagrados túmulos (sacra limina) dos Apóstolos Pedro e Paulo, fundadores da Igreja-Mãe de toda a Cristandade, e ao mesmo tempo cumprirem o que levou S. Paulo a Jerusalém no início da sua vida apostólica: “encontrar-se com Pedro”) Gál. 1,18), para com ele confrontar os seus projectos apostólicos. A minha primeira experiência de visita ad limina data de Junho de 1977. Eu era então Bispo coadjutor de Beja e acompanhei o Bispo residencial, D. Manuel dos Santos Rocha, no cumprimento deste grato dever. E senti que não se tratava de mera prescrição canónica, mas de necessidade de me sentir em união com o Papa, sucessor de Pedro e com Ele bem inserido na Igreja que Cristo fundou e quis única e una. Por altura desta visita, prescreve o Direito Canónico que o Bispo elabore e entregue o Relatório Quinquenal sobre o estado da sua diocese. Embora tal obrigação impendesse sobre o Bispo residencial, colaborei na sua redacção e com ele o assinei. O turno dos Bispos em que me incorporei nesta viagem-peregrinação chegou a Roma, de avião, no Domingo 12 de Junho, indo à tarde, na igreja de Santo António dos Portugueses, celebrar a missa da festa do Corpo de Deus (na Itália transferida da Quinta-feira para o Domingo seguinte). E, logo na Segunda-feira, 13, por coincidência dia de Santo António, fomos recebidos colectivamente pelo Papa Paulo VI. O nosso Cardeal Patriarca saudou o Santo Padre em latim, e o Papa, depois de breve resposta na mesma língua, conversou com todos em italiano. Nos dias seguintes, celebrámos a missa na Basílica de São Pedro e peregrinámos até às outras basílicas patriarcais: São João de Latrão, São Paulo fora de muros e Santa Maria Maior, alternando com idas a algumas Congregações Romanas. Ficámos alojados no Colégio Português, que nos proporcionou uma excursão a Orvieto, Bolsena e Viterbo, onde repousam os restos mortais de João XXI, o único Papa de origem lusitana. Assumi a plena responsabilidade pastoral da Igreja de Beja a 8 de Setembro de 1980. Já era Papa, há cerca de dois anos, João Paulo II. Com ele me encontrei nas três visitas ad limina de Fevereiro de 1983, Junho de 1987 e Novembro de 1992. Este ano de 1999, nos finais de Novembro, já será o novo Bispo de Beja, D. António Vitalino Dantas a fazer a visita, embora o Relatório sobre o estado da diocese ainda tenha sido feito por mim. É de justiça registar que este Papa sempre mostrou grande interesse pela visita dos Bispos. Além da recepção conjunta a cada um dos grupos (da Província Eclesiástica de Braga e das Províncias de Lisboa e Évora), dirigindo-lhes alocuções complementares, convida-os a celebrar a missa com ele na sua capela privativa, seguida de almoço informal, e por fim recebe cada um deles em audiência privada de cerca de um quarto de hora. E sempre teima em que se fale português. É de referir que as alocuções do Papa têm em conta quer os relatórios quinquenais quer os temas sugeridos, de acordo com as circunstâncias do momento, pela Conferência Episcopal. Por sua vez, os Dicastérios Romanos lêem com atenção os relatórios com frequência os comentam em mensagem a cada Bispo. Os relatórios, actualmente, obedecem a um esquema proposto pela Santa Sé, na intenção de conterem o que mais interessa conhecer da diocese e de facilitar a sua leitura pelos Dicastérios Romanos. O esquema actual tem 22 capítulos, que focam desde a organização pastoral e administrativa da diocese, aos aspectos práticos da pastoral catequética, litúrgica e sócio-caritativa, sem esquecer aspectos hoje fundamentais como a pastoral da família, a evangelização da cultura, a cooperação missionária, o diálogo ecuménico, etc. A experiência de Roma é, do ponto de vista histórico-cultural, verdadeiramente única. E do ponto de vista eclesial, leva a conhecer o que disse um dia da Igreja Católica certo economista americano, que é a mais perfeita de todas as organizações mundiais; mas, ao mesmo tempo faz descobrir que nem tudo nela reflecte a pureza e novidade do Evangelho, convidando assim a avivar a fé e o desejo de que ela se purifique e progrida sempre mais na realização da missão transcendental de salvar o homem e o mundo. + Manuel Franco Falcão, Bispo Emérito de Beja

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