A virtude da humildade

António Estanqueiro, Professor e Formador

Agência Ecclesia/MC

A humildade é uma virtude que nos torna mais conscientes das nossas limitações e mais dispostos a valorizar os outros. Não deve ser confundida com baixa autoestima, falta de autoconfiança, passividade ou submissão aos outros.

Fundamento de outras virtudes, a humildade tem um papel central nas diversas religiões, entre as quais se destaca o cristianismo. De acordo com a doutrina católica, a virtude da humildade opõe-se à soberba (orgulho excessivo ou arrogância), um dos “sete pecados capitais” do comportamento humano.

Esta virtude, expressão de maturidade psicológica e espiritual, deve ser cultivada por todos, em especial por líderes e educadores. É uma forma de sabedoria que promove o desenvolvimento pessoal e aumenta a qualidade das relações humanas. Está na base do sucesso e da felicidade.

Na prática, como se manifesta a virtude da humildade? Não havendo uma resposta única, vejamos dez atitudes essenciais das pessoas humildes de coração.

 

  1. Aceitar-se

Ser humilde pressupõe conhecer-se a si mesmo. Uma pessoa humilde, consciente das suas capacidades e limitações, dos seus pontos fortes e fracos, aceita-se como é, sem complexos, evitando comparar-se com os outros. Comparações descuidadas podem gerar sentimentos de inferioridade ou de superioridade em relação ao próximo. Os sentimentos de inferioridade enfraquecem a autoestima e a autoconfiança, enquanto os sentimentos de superioridade conduzem ao egocentrismo, à vaidade ou à arrogância, impedindo uma relação equilibrada com os outros. Não somos superiores nem inferiores a ninguém. Nem melhores nem piores. Somos diferentes, mas iguais em dignidade e direitos. Todos merecemos respeito.

 

  1. Refletir sobre as críticas

É sinal de humildade refletir sobre as críticas que recebemos dos outros e tentar compreender as suas verdadeiras intenções, antes de reagir. Se as críticas são justas e construtivas, vindas de pessoas próximas (familiares, amigos, colegas, professores ou líderes) que nos querem ajudar, devemos aceitá-las como uma oportunidade para aprender e crescer. Mas se as críticas são injustas e destrutivas, feitas por alguém pouco informado ou mal-intencionado, será preferível manter o autocontrolo e não lhes dar importância. Caso se trate de um insulto, temos o direito de defender a nossa dignidade com firmeza, exigindo respeito. Ser humilde não implica deixar-se humilhar.

 

  1. Admitir erros

Somos responsáveis pelas nossas escolhas na vida pessoal e social. Quando fazemos boas escolhas, cuidando de nós e dos outros, sentimo-nos satisfeitos.  Quando fazemos más escolhas, causando prejuízos a nós ou aos outros, devemos ter a humildade de admitir os nossos erros e aprender com a experiência. Ninguém é perfeito. As pessoas humildes, mesmo sabendo que há circunstâncias difíceis de controlar, não inventam justificações nem procuram culpados para o seu comportamento incorreto. Assumem a responsabilidade pelos erros que cometem no uso da sua liberdade. Quanto mais liberdade, mais responsabilidade.

 

  1. Pedir desculpa

A atitude de pedir desculpa a alguém revela grande humildade. Não é fraqueza, mas coragem. Uma pessoa consciente e responsável reconhece, honestamente, o mal que fez aos outros. O pedido de desculpa pode ser feito numa mensagem escrita, mas é mais eficaz fazê-lo presencialmente, face a face, escolhendo o momento oportuno. Quando pedimos desculpa, devemos ser sinceros, expressar arrependimento genuíno e prometer corrigir o nosso comportamento. O mais importante está na decisão de agir melhor no futuro e não repetir os mesmos erros. Seremos desculpados? A resposta depende do coração dos outros.

 

  1. Mostrar empatia

Uma pessoa humilde mostra empatia, capacidade de se colocar no lugar dos outros para compreender o que eles pensam, sentem e querem. Escuta as palavras dos outros e observa a sua linguagem corporal (o olhar, as expressões do rosto e os gestos) sem pressa de falar. Em vez de fazer julgamentos precipitados ou criticar o comportamento de alguém, pergunta a si mesmo: “Se eu estivesse na mesma situação, o que gostaria ou aceitaria que me fizessem?” A empatia incentiva-nos a tratar os outros humanamente como queremos ser tratados, em circunstâncias semelhantes. É a chave da compaixão e da solidariedade.

 

  1. Dialogar

Quando queremos partilhar ideias ou resolver eventuais conflitos, a melhor atitude é dialogar com humildade, sem arrogância nem preconceitos. Importa mais escutar do que falar. Pessoas dialogantes escutam os outros com atenção, ainda que discordem das suas opiniões. Depois de escutar, apresentam o seu ponto de vista, de forma honesta, num estilo de comunicação afirmativo (não passivo nem agressivo). Conscientes de que não sabem tudo, mostram abertura de espírito para aprender com os outros. E, sempre que necessário, procuram negociar acordos com os seus interlocutores. O diálogo autêntico, alicerçado no respeito mútuo, é o caminho da aprendizagem e da convivência pacífica.

 

  1. Pedir ajuda

As pessoas humildes têm a coragem de pedir ajuda sem temer recusas. Pedem aquilo que lhes falta e os outros podem dar. Precisamos uns dos outros para satisfazer as nossas necessidades biológicas e psicológicas, materiais e espirituais. Quem não precisa? Nas situações em que nos sentimos indecisos ou desorientados e não sabemos como agir, é sensato pedir opiniões ou conselhos a alguém competente e disponível, que mereça confiança. Se aceitarmos a ajuda dos outros com humildade, sem vergonha, podemos resolver melhor alguns problemas e desenvolver as nossas competências pessoais e sociais. Caminhamos juntos.

 

  1. Agradecer

Uma das atitudes essenciais das pessoas humildes é a gratidão. Merecem a nossa gratidão todos os que nos ajudam com o seu tempo, o seu saber ou o seu esforço, especialmente os familiares e amigos que nos dão apoio incondicional nos bons e nos maus momentos. Quando atingimos um objetivo ou celebramos um resultado positivo, devemos apreciar e agradecer o contributo dos outros. Ninguém conquista nada sozinho. O sucesso na vida pessoal, social e profissional depende mais da cooperação do que da competição com os outros. Há sempre motivos para oferecer um elogio sincero ou dizer “obrigado” a alguém.

 

  1. Perdoar

A humildade abre-nos o coração para perdoar aos outros as suas ofensas. Perdoar não é desvalorizar nem esquecer o que aconteceu. É tomar a decisão livre, consciente e voluntária, de renunciar à vingança pessoal contra o agressor e resistir à tentação de fazer justiça pelas próprias mãos. Isto não revela ingenuidade, mas sabedoria. Porque só o perdão poderá libertar-nos do veneno da raiva e do ódio. Perdoando, ganhamos paz interior e damos a quem nos tratou mal uma oportunidade para mudar de comportamento. Mas o perdão não implica reconciliação. Uma pessoa agredida tem o direito de cortar relações com o agressor.

 

  1. Ser solidário

Numa cultura individualista e competitiva, a grandeza de uma pessoa está na humildade de servir o próximo. Quem é humilde, dispõe-se a ser solidário, dando aos outros o que eles precisam. Partilha, de livre vontade, o que tem e sabe. Faz o bem aos outros de forma generosa e gratuita, sem esperar recompensa ou gratidão. A solidariedade é a base da vida social. Quando somos compassivos e solidários, promovemos o bem-estar dos outros e sentimo-nos mais felizes. Com gestos de bondade, por mais simples que sejam, fortalecemos as nossas relações e contribuímos para a construção de uma sociedade mais justa e fraterna.

 

António Estanqueiro

Professor e Formador

 

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