LUSOFONIAS – O Corredor Nampula – Nacala

Tony Neves, no corredor Nampula – Nacala

Os Espiritanos chegaram a Netia, Diocese de Nacala, em 1996. Estava já eu de regresso a Portugal, após seis anos de Missão em Angola, em plena guerra civil. Acompanhei, por isso, sempre de perto a evolução da Missão neste ‘Corredor Nampula-Nacala’, como se chamava a estrada que liga as duas cidades, sempre ladeada pela linha de comboio que, agora, se limita a arrastar mais de uma centena de carruagens que traz carvão das minas de Tete até ao porto de Nacala.

Aterrei, mais uma vez, em Nampula, era já noite e fazia um calor de esturricar. Levado até à Casa Principal dos Espiritanos, ali jantei e tentei dormir, apesar do ambiente infernal. O dia seguinte foi de visita à cidade, a abarrotar de povo e comércio nas ruas, cada vez mais caótica em trânsito, com as estradas todas esburacadas, havendo apenas raríssimas exceções. Com o P. Alberto Tchindemba, à medida que nos dirigíamos rumo às periferias, entramos em caminhos de terra batida, cheios de buracos e de lixo, a mostrar como está fragilizada a vida da maioria da população, atirada para bairros periféricos, em expansão acelerada, mas sem infra-estruturas. Pároco de S. João de Deus, o P. Alberto mostrou-me as Comunidades que anima: S. João de Deus, com uma Igreja em construção, escola e centro de desenvolvimento; S. Simão, com um infantário e S. Rafael, no Bairro de Matauanha, lá onde ele dirige a Escola Comunitária de S. João de Deus, do ensino básico ao 12º ano, com 1170 alunos.

Tive ainda a oportunidade de entrar na Catedral, dedicada a Nossa Senhora de Fátima, onde fui rezar pela paz.

Itoculo, Vila do Milénio, Diocese de Nacala, fica a 150 kms de Nampula, sendo os últimos 15kms uma picada difícil de enfrentar. Os Espiritanos fundaram a Missão de S. José em 2004, saindo de Netia. Deixamos Nampula na hora da sesta, pois a agenda obrigava a chegar ao destino pelas 16h, uma vez que os Leigos Espiritanos me esperavam para uma reunião e a celebração da Missa. A estrada está boa, a paisagem é verde, povoada de cajueiros que alimentam o povo, pois há dezenas de pessoas a vender caju na berma e vêem-se muitos carros e camiões parados. Também é ano de mangas e isso nota-se na pele brilhante das crianças.

Paramos no Centro Catequético de Anchilo onde pude abraçar o Irmão Neto, um comboniano com longo tempo de Missão aqui, mas que também trabalhou muito na animação missionária em Portugal. Depois de passar o Namialo, povoação importante por ter a saída da estrada para Pemba, apareceu a estrada que bifurca para a lha de Moçambique e, assim, a saída para Itoculo estava próxima. Entramos na picada, fizemos com os saltos o resto da digestão do almoço e chegamos vivos à Missão. Sem tempo para respirar (nem pôr os ossos no sítio!), avançamos para a Igreja de S. José onde teve lugar uma Missa muita animada pelo povo local e um pequeno refresco de boas vindas.

A noite foi curta e quente e, às 6h já rezávamos juntos. Visitamos o Centro Nutricional das Espiritanas, onde a Irmã Blanca, paraguaia, com uma equipa, acolhe e apoia, com pesagem, papas e muitas orientações, mais de uma centena de crianças desnutridas. Também pudemos visitar as estruturas dos Lares Feminino e Masculino que, durante o tempo de aulas, aloja e acompanha adolescentes e jovens que vêm das cerca de 80 comunidades rurais que a Missão anima. Dali partimos para Havara, numa picada ladeada por plantações de algodão e mandioca. Houve reunião e missa, dentro de uma capela pequena demais para tanta gente. Celebramos também e jantamos com as Irmãs Espiritanas. Após manhã de sexta no Índico, regressamos a Nampula, para as celebrações do fim de semana, nas várias Comunidades de S. João de Deus.

No país, estão todos à espera do 23! Não se trata de número de autocarro ou lotaria, é mesmo uma data: esta segunda feira, em que se aguarda que o Conselho Constitucional faça a confirmação dos resultados divulgados pela Comissão Nacional de Eleições. Estes foram considerados fraudulentos por toda a oposição ao regime que governa o país desde a independência, há quase meio século. Paira sobre o país, através dos media sociais, a ameaça de caos generalizado, sobretudo nas periferias das grandes cidades, lá onde o povo está saturado de sofrer os efeitos de uma governação que não tem dado resposta aos problemas dos mais pobres.

Aguardemos o anúncio. Rezemos para que o caos não se instale.

O meu regresso a Maputo tem por objetivo ir à Matola viver o Natal com os Espiritanos que dirigem o Seminário InterDiocesano de Filosofia.

Desejo a todos um Natal cheio de Justiça, Paz e Fraternidade.

 

22.12.2024

Tony Neves, no corredor Nampula – Nacala

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