A verdade não se diz

José Luís Nunes Martins

Quem não consegue calar-se e escutar, não admira nem aprende, não sonha nem trabalha.

Admirar é fundamental. Parar e contemplar é uma forma excelente de nos abrirmos à beleza e à bondade do mundo e dos outros. Quem não se espanta, vive isolado num mundo em que é rei e escravo… longe da verdade.

O silêncio é uma condição essencial ao aperfeiçoamento e à própria perfeição. As palavras são importantes, mas quase sempre são mais confusão do que luz.

É fundamental aprendermos a aprender, a escutarmos com todos os sentidos, num silêncio onde o mundo e os outros nos possam tocar com o que têm e são de melhor.

Se estamos sempre a falar e a pensar no que podemos e vamos dizer a seguir, perdemos muito do que os outros nos dizem. Mesmo quando nos dizem coisas sem valor. Os maus exemplos podem ser excelentes referências, enquanto modelos a evitar. Maus caminhos que importa não seguir.

Mas, cuidado, só se aprende no silêncio. Mesmo connosco mesmos, só com tranquilidade podemos escutar as vozes que, em nós, nos indicam os caminhos do bem.

Só no silêncio nos entregamos com toda a confiança, saindo dos imensos labirintos do nosso interior, a fim de alcançarmos aquela porta no mais fundo de nós que nos abre ao infinito.

É também na quietude quase absoluta de quem sabe escutar que sonhamos aqueles que hão de ser os nossos planos de vida.

Só se trabalha bem em silêncio. Mesmo aqueles que têm nas palavras os instrumentos do seu dom, precisam de as semear na quietude dos silêncios de onde hão de brotar as ideias que as sustentam.

As palavras apenas podem apontar para a verdade. A verdade está nas obras concretas, mas também na ausência delas. A verdade é a obra ou o vazio, não a palavra.

As palavras podem ser verdadeiras, mas nunca são a verdade. A verdade é o que é, o que existe, ainda que não a consigamos compreendamos.

A vida não deixa nunca de nos ensinar que é ao silêncio que caberá sempre a última palavra.

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Agência ECCLESIA

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