A sua eleição é uma surpresa em todos os sentidos

Bispo de Angra saúda Bento XVI «Benedictus qui veni in nomine Domini» «Bendito o que vem em nome do Senhor»! É com esta invocação, que nós católicos queremos acolher, na fé, o novo Papa, Bento XVI. É natural que cada um de nós terá tido as suas preferências e simpatias. Os Cardeais escolheram diante de Deus aquele que julgaram ser a pessoa mais indicada, para orientar a Igreja nos tempos que correm. Este é o Papa que a Providência nos dá para o momento presente. Em afectiva e efectiva comunhão eclesial, acolhemo-Lo como dom, com toda a gratidão e a mais completa abertura de coração e de espírito. As suas primeiras palavras, como Bispo de Roma, na bênção «Urbi et Orbi», foram de uma simplicidade e humildade extremas. Reconhecendo a grandeza do seu predecessor, apresentou-se como «simples trabalhador da vinha do Senhor», confiado na oração de todos os fiéis católicos. A sua eleição é uma surpresa em todos os sentidos. Foi rápido o consenso alcançado e à volta de uma personalidade como a do Cardeal Ratzinger, conotado pela comunicação social com a ala mais conservadora da Igreja, devido à ingrata e tantas vezes incompreendida missão de Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé. Iluminados pelo Espírito Santo, os Cardeais eleitores tiveram a coragem de escolher uma pessoa, que, à partida, poderia ser considerada controversa, não deixando ninguém indiferente, positiva ou negativamente. Votaram na continuidade, escolhendo aquele que era considerado «o braço direito de João Paulo II». Com a sua envergadura espiritual e intelectual, poderá continuar o grande legado do Papa polaco, promovendo a renovação da Igreja, sempre na linha conciliar, como bem esclareceu esta manhã, no discurso final da Concelebração Eucarística na Capela Sistina. Bem consciente da pesada herança que recebe, faz questão de assinalar que «o ministério apostólico de João Paulo II é único». Mas «deixou pistas» – esclarece – que ele entende seguir, com o apoio de toda a Igreja. Nesse sentido, referiu-se aos 40 anos da ocorrência do encerramento do Concílio, no próximo 8 de Dezembro; lembrou o Ano da Eucaristia que estamos celebrando e o próximo Sínodo dos Bispos, precisamente sobre a Eucaristia; exprimiu o seu contentamento pelo encontro com os jovens, centrado também na Eucaristia, no Dia Mundial da Juventude, em Colónia, previsto para Agosto; mostrou toda a sua disponibilidade e vontade firme para prosseguir o diálogo ecuménico e inter-religioso e reafirmou o empenho da Igreja, em defesa dos direitos humanos, na luta contra a pobreza e as injustiças. Surpreendeu, de algum modo, também o nome que adoptou. Todos esperavam que o sucessor de João Paulo II significasse a continuidade da herança conciliar, adoptando o nome dos seus protagonistas. Ele preferiu recuar até Bento XV, o Papa da paz, durante a I Guerra Mundial, dando assim o sinal de que continuará a promover a «cultura da paz». Por outro lado, o nome adoptado reconduz-nos a S. Bento, o Padroeiro da Europa, que está nas raízes do seu património cristão, o grande contributo que a Igreja poderá dar para o avanço da civilização. Não é de poder da Igreja que o mundo precisa. É do Evangelho de Jesus, vivido com coerência e em atitude de serviço à humanidade. João Paulo II «deixa uma Igreja mais corajosa, mais livre, mais jovem» confessa o novo Papa. E nós acreditamos que «temos Papa» à altura dos nossos tempos. Conhece bem os meandros do funcionamento da Cúria Romana. Tem um conhecimento privilegiado dos problemas principais da Igreja no momento presente e os grandes desafios pastorais, levantados pela cultura contemporânea. Homem de grande cultura e com a solidez teológica que lhe é reconhecida, tem todas as condições, para promover o necessário diálogo com a cultura hodierna. Vai ser um Papa, que continuará o grande Magistério de João Paulo II, na fidelidade à Tradição viva da Igreja e na abertura aos grandes problemas da convivência humana. Só um homem, com o seu prestígio e a segurança doutrinal que manifesta, poderá enfrentar os problemas deixados em aberto pelo seu predecessor e empreender as grandes reformas de que a Igreja precisa, para continuar a anunciar e testemunhar o Evangelho de sempre num mundo em mudança. Pela sua idade avançada, há quem pense que será um Papa de transição. Mas pode reservar-nos surpresas, como sempre acontece nestes cálculos meramente humanos. Foi o que aconteceu com João XXIII. Pela sua coragem e determinação, pela fidelidade ao Evangelho de Jesus, de que tem dado provas, mesmo sabendo que se tornava impopular, não o vejo a gerir e a manter apenas o existente. Dará os passos possíveis e necessários, para que a Igreja seja fiel à sua missão no mundo de hoje. Não sei se chegará a convocar um novo Concílio, como alguém preconiza. Vejo-o mais a valorizar o Sínodo dos Bispos, pois foi o grande teólogo perito sobre a colegialidade dos Bispos, no Vaticano II. Aliás, no discurso final, esta manhã na Capela Sistina, pondo em evidência a fragilidade das sus forças e capacidades, apelou precisamente à unidade e colegialidade dos Bispos, como apoio indispensável ao seu ministério apostólico. O que o grande público conhece são as suas intervenções como Prefeito da Congregação da Doutrina da Fé. Mas a firmeza das suas posições era fruto de muito diálogo com os Bispos e Teólogos; estudava profundamente as questões, apoiando-se na consulta a especialistas de todo o mundo católico. Há quem tema que poderá dar espaço aos integralismos no seio da Igreja. Isso não vai acontecer. A sua profunda espiritualidade e coerência doutrinal dão-lhe o bom senso do equilíbrio e da sabedoria. Não está dominado apenas pela preocupação da «recta doutrina», como poderia fazer supor a sua função de vigilante da ortodoxia na Congregação para a Doutrina da Fé. Faz transparecer a serenidade de quem vive uma profunda experiência de fé, ancorada numa adesão firme e fiel a Cristo e à Igreja. Para melhor o conhecer, mais do que olhá-Lo com as etiquetas da comunicação social, é preciso ler o que escreveu. E, naturalmente, esperar pelas suas intervenções de fundo, que não se farão esperar, pois já conhece os «dossiers». Não vai imitar, à letra, o Papa João Paulo II. Vai prosseguir nos caminhos já abertos, sendo igual a si mesmo. Não há dois Papas iguais. Cada um tem as suas qualidades e carismas, que são postos ao serviço da Igreja Universal. É o que esperamos do novo Papa Bento XVI. Rezemos por Ele, como nos pediu. + António, Bispo de Angra

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