A Solidão de Bento XVI

Bispo de Viseu diz que o Papa «tem todos os canais intermédios de corresponsabilidade e de comunhão, criados pelo Concílio Ecuménico Vaticano II» Muito preocupados com a situação de unidade e de comunhão na Igreja andam os jornalistas e os meios de comunicação social do mundo e, também, os do nosso País. É bom ter a Igreja como centro de visibilidade e de interesse, na sua realidade de Instituição pública religiosa e ao serviço do público e como Instituição que vive as causas que marcam a vida das pessoas e influenciam a sua quotidiana existência! É bom interrogarem-se, de forma permanente, se as vicissitudes de uma Instituição – também humana e terrena, ainda que de fundação e de assistência divina – continuam a permitir-lhe anunciar a Verdade e acompanhar e orientar a vida de todos aqueles que seguem Jesus Cristo e que abrem o coração aos valores do Evangelho! É bom que este interesse seja para acompanhar, positivamente, os ideais, os valores e o sentido que a Igreja veicula, respeitando a sua missão e os meios e condições que lhe são devidos por direito e por respeito! É muito bom que este olhar crítico, de bons observadores, seja a constatação de que a Sociedade quer, precisa e exige uma Igreja interveniente como luz, sal e fermento! Tudo isto para que a Igreja possa realizar uma missão de denúncia salutar e de anúncio feliz para um Mundo justo, fraterno e solidário, respeitando e fomentando a dignidade das pessoas e os direitos fundamentais de todas elas, sem excepção de idade, de cor, de condição social, de mundo em que vivam… Vem isto a propósito de grandes caixas, títulos e reflexões sobre a “solidão de Bento XVI”. Apontam, em “lógica” e em “coerência”, possíveis falhas de unidade em afirmações desenquadradas de contexto, de tempo e de sentido, sobre o que há de mais diferente – e tantas vezes acessório – nas posições, tidas por alguém, mais próximo ou mais distante do Papa Ratzinger… Felizmente que tudo é notado na Igreja, mesmo o que se diz sobre um tema “menor”. Quero voltar a desejar que seja porque a Igreja é importante, respeitada e escutada: na sua missão, doutrina e posições sobre as pessoas e a sociedade. Porque falta de unidade e de comunhão no essencial… não se divisa. Falta de coordenação “logística” ou jornalística? – a Igreja é também humana e, assim: aprende, cresce, vive, sofre e erra… Solidão? É normal em todos aqueles que assumem no mundo e, também, na Igreja, obrigações de organizar e coordenar a vida, de estabelecer comunhão, de discernir nas diferenças e opções necessárias, de decidir em situação última (depois de percorridas as instâncias e etapas de diálogo, de procura e de elaboração). A solidão do último responsável é natural face à verdade, face à fidelidade, face à responsabilidade, face à diversidade, face à necessidade, face à caridade… Sobretudo na Igreja, quando é essencial a comunhão com Deus e com os homens. Todos os Cristãos – Leigos, Religiosos, Sacerdotes, Bispos ou Cardeais – temos a noção do sentido e da importância da missão do Papa na Igreja e do apoio, respeito, atenção, unidade e comunhão que lhe devemos. Temos a certeza, também, da presença e da assistência do Espírito de Deus que acompanha, orienta e guia as pessoas que, de coração aberto, vivem, com amor, o Evangelho como a Boa Nova para os tempos e as pessoas de cada hoje. Nas pessoas, guiadas e assistidas pelo Espírito Santo, a primeira, com um Ministério todo ele especial e único, é o Papa – hoje, Bento XVI. Nunca está só porque, para além desta assistência divina e sobrenatural, tem todos os canais intermédios de corresponsabilidade e de comunhão, criados pelo Concílio Ecuménico do Vaticano II, que o Papa reúne, ouve e respeita. O Vaticano – Sede visível da Igreja Una, Santa, Católica e Apostólica – tem todo um conjunto de pessoas, nos diversos ministérios eclesiais, com vários representantes em todo o mundo que servem, permanentemente, a Verdade na Caridade, em ordem ao bem comum de toda a Igreja, na sua missão de realizar, hoje e sempre, a vontade de Deus. Solidão do Papa porque os Cristãos (Leigos, Religiosos, Sacerdotes, Bispos ou Cardeais) não estão com ele? Não. A Unidade Colegial – na Comunhão e na Corresponsabilidade – e a missão do Papa nesta Unidade e em toda a Igreja são dois dos maiores bens que a Igreja tem e que o Vaticano II aprofundou (ao jeito do Colégio dos 12 Apóstolos e da Igreja nascente) e que não estão a saldo. Ilídio Leandro – Bispo de Viseu

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Agência ECCLESIA

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