A Revolução das Cores

Miguel Oliveira Panão (Professor Universitário), Blog & Autor

Celebrámos recentemente a Festa de Pentecostes. É a celebração daquilo que o Espírito Santo pode fazer em nós para levar este mundo a uma maior união com Deus-Trindade. O que Ele pode fazer por nós não é mais do que algo que está na Sua essência: dar.

Os dons que o Espírito Santo são sete, como as cores do Arco-Íris. Por isso, de cada vez que o vires na natureza ou alguma parte podemo-nos (re)lembrar desses dons, pedi-los, acolhê-los e colocá-los ao serviço do ser humano e do mundo natural.

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Vermelho: Sabedoria

”A quem iremos, Senhor? Só tu tens palavra de vida eterna.” (Jo 6, 68)

Quantas vezes não sabemos bem o que dizer. Por exemplo, quando nos pedem para contar a nossa experiência de vida ou de fé. Quando nos pedem uma palavra de conselho, ou simplesmente a nossa opinião. Pensamos que deveríamos saber muito, mas isso não é a Sabedoria do Espírito Santo. Por vezes, deixar que o Espírito Santo fale por nós implica esvaziarmo-nos do que sabemos e pensamos, e colocar toda a nossa atenção e amor nos que temos diante de nós.

O dom da Sabedoria que o Espírito Santo nos dá renova o nosso gosto pelo relacionamento com Deus e pela Sua Palavra.

Alaranjando: Inteligência

Quando na missa fazemos três cruzes antes de escutar o Evangelho penso no seguinte:

  • na testa: abre a minha mente
  • na boca: abre as minhas palavras
  • no peito: abre o meu coração

As verdades revelam-se no relacionamento com Deus que se aprofunda com o tempo. O mundo criado por Deus existe mais para ser amado do que ser conhecido. Pois, quando amado é conhecido.

“Eu lhes darei um coração capaz de me conhecerem e de entenderem que Eu sou o Senhor” (Jr 24,7)

O dom da inteligência que o Espírito Santo nos dá manifesta-se mais num coração que ama, do que numa mente inteligente que não sabe amar.

Amarelo: Conselho

São muitas as encruzilhadas na nossa vida. E o discernimento passa muito pela sensibilidade à Vontade de Deus em cada momento presente. Enquanto existem muitas situações em que esse discernimento é individual, cada vez mais descobrimos como juntos vamos mais longe, e o discernimento torna-se comunitário.

O dom do conselho que o Espírito Santo nos dá permite estarmos mais atentos ao que realmente está por detrás de cada evento da nossa vida, não o que aparenta estar, e iluminados pelo Seu conselho, discernir.

Verde: Conhecimento

O conhecimento de Deus não é o mesmo que o conhecimento científico desenvolvido pelo ser humano. E a relação entre ambos é cruciforme. As questões científicas progridem no conhecimento material da realidade, dando-lhe uma dimensão horizontal. A questões que envolvem o conhecimento de Deus aprofundam o possível do Seu pensamento sobre nós e o Universo onde estamos imersos, dando-lhe uma dimensão vertical.

O dom do conhecimento que o Espírito Santo nos dá permite distinguir ambas as dimensões e reconhecer a forma cruciforme do conhecimento, sem divisão ou confusão.

Azul: Piedade

Se o dom do conselho permite-nos ser mais sensíveis à Vontade de Deus, o dom da piedade abre-nos o coração, a mente e as mãos a essa Vontade. Diz S. Paulo,

”ninguém pode dizer: «Jesus é Senhor», senão pelo Espírito Santo.” (1 Cor 12, 3)

É uma realidade mais quotidiana do que pensamos. Não há outra lógica para nos entregarmos totalmente a Deus, e desejar que Ele seja o Maestro da sinfonia feita pelas nossas vidas, senão pela acção do Espírito Santo.

O dom da piedade que o Espírito Santo nos dá é o que desenvolve a empatia em nós, que não se alheia do sofrimento do outro, mas faz tudo o que estiver ao seu alcance para o suportar juntamente com ele.

Anil: Fortaleza

Não podemos esquecer as adversidades que fazem parte da nossa vida. Quando doamos a nossa vida aos outros diante das nossas dificuldades, como é possível? A atitude natural é a de sobreviver e cuidar bem de nós, ainda que seja com o intuito de cuidar bem dos outros. Logo, como é possível ter a coragem de dar quando se tem pouco? É essa a experiência da fortaleza que o Espírito Santo nos dá.

O dom da fortaleza que o Espírito Santo nos dá garante-nos uma confiança incondicional em Deus que tudo pode quando as forças parecem faltar.

Violeta: Temor de Deus

Por fim, um dom que em miúdo confundia muito com “ter medo” de Deus. Depois, aprendi o que realmente significa,

”Ele é que deve crescer, e eu diminuir.” (Jo 3, 30)

E a razão é relativamente simples: para que Ele possa ser tudo em todos (Col 3, 11).

O dom do Temor de Deus que o Espírito Santo nos dá é o que nos une a todos na grandeza de Deus que é Amor. Por isso, é o dom que enaltece a grandeza do Amor.


Quando na última apresentação da Apple fizeram questão de chamar a atenção para uma bracelete destinada ao Apple Watch com as setes cores, o objectivo está associado ao pride do movimento gay. Orgulho, pela própria definição da palavra, quer dizer “sentimento de prazer, de grande satisfação com o próprio valor, com a própria honra.” Pareceu-me algo compreensível, mas muito voltado para si próprio. Proponho mudarmos o nosso olhar.

Quando olho para aquelas setes cores não vejo orgulho, mas muito mais. Vejo os setes dons do Espírito Santo que geram uma Revolução das Cores associada ao modo como os Seus dons revolucionam a nossa vida.

Olho para as setes cores e não vejo o orgulho de si, mas a humildade do vulnerável que, colocando toda a sua confiança na acção e dons do Espírito Santo, encontra a coragem de quem se dá a si mesmo para elevar os outros, ou melhor, elevar aquele Jesus que vê neles.

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Agência ECCLESIA

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