A regra de ouro e as relações humanas

António Estanqueiro, Formado em Filosofia e Teologia

Agência Ecclesia/MC

Somos seres relacionais. Estamos todos ligados por laços de maior ou menor proximidade. Como devemos agir na relação com os outros para podermos viver juntos e felizes?

A chamada “regra de ouro” indica-nos o caminho: tratar os outros como queremos ser tratados. Seguindo este princípio, cultivamos relações humanas mais saudáveis e contribuímos para a construção de uma sociedade melhor.

 

Princípio ético

A regra de ouro é um princípio ético fundamental com origens na sabedoria de antigas tradições culturais, religiosas e filosóficas da humanidade. Exprime-se em duas formulações simples, uma negativa e outra positiva.

O filósofo chinês Confúcio (551-479 a. C.) deixou-nos uma formulação negativa muito conhecida: «Não faças aos outros o que não queres que te façam a ti» (Os Analectos 15, 23). A formulação positiva, mais exigente, vem dos ensinamentos de Jesus de Nazaré: «Tudo o que quereis que os outros vos façam, fazei-o também a eles» (Mt 7, 12).

Apesar das diferenças na sua formulação, a regra de ouro é comum às grandes religiões: judaísmo, cristianismo, islamismo, hinduísmo e budismo, entre outras. Para além disso, encontra-se em diversas culturas e filosofias, desde a Antiguidade, sendo compartilhada por crentes e não crentes de todo o mundo, ao longo da história. É património universal.

No seu sentido ético, esta regra desafia cada um de nós a cuidar de si mesmo e dos outros, a amar o próximo como a si mesmo. Somos irmãos, membros da família humana, iguais em dignidade e em direitos. Como seres conscientes e responsáveis, devemos querer para todos o bem que queremos para nós próprios. Isto não é fácil. Implica a superação do egocentrismo.

A regra de ouro é um princípio que orienta a nossa conduta moral na vida em sociedade. Mas não funciona como uma fórmula mágica e infalível para resolver todos os problemas da convivência humana.

 

Aplicação da regra

É um erro aplicar à letra a regra de ouro. De facto, a sua aplicação literal, ingénua ou interesseira, pode gerar comportamentos incorretos nas relações interpessoais. Porquê? Simplesmente porque cada pessoa tem necessidades e gostos diferentes.

Quem se preocupa apenas com os seus pontos de vista ou os seus sentimentos, deve refletir sobre o conselho bem-humorado do escritor irlandês Bernard Shaw (1856-1950): «Não faças aos outros o que gostarias que te fizessem a ti. O gosto deles pode não ser o mesmo.»

Para aplicar a regra de forma sábia, precisamos de empatia, capacidade de nos colocarmos no lugar dos outros para compreendermos a sua situação, o que eles pensam, sentem e querem. Com empatia, cada um de nós deve perguntar a si mesmo: «Se eu estivesse na mesma situação, o que gostaria ou aceitaria que me fizessem?» Cumprir a regra de ouro é tratar os outros humanamente como queremos ser tratados, em circunstâncias semelhantes.

Na prática, se não queremos a violência, não vamos usá-la contra ninguém; se queremos a verdade, vamos ser honestos e não mentir; se queremos o perdão, vamos perdoar; se queremos a justiça, vamos ser justos; se queremos a compaixão, vamos ser compassivos; se queremos a solidariedade, vamos ser solidários. Em síntese, vamos tomar a iniciativa de fazer o bem e evitar o mal, com respeito incondicional pela dignidade de cada pessoa. Sem discriminações.

Educadores e líderes empenhados na formação moral e cívica dos jovens devem transmitir-lhes a sabedoria milenar da regra de ouro. Bem aplicada, esta regra é um caminho para humanizar as relações, garantir o respeito mútuo, defender os direitos humanos e promover uma convivência mais pacífica entre as pessoas. É um convite ao abraço da fraternidade.

António Estanqueiro
Professor e Formador

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