«A dimensão social do anúncio do Evangelho ? Desafios do Papa Francisco» é o tema de reflexão do XXIX encontro da Pastoral Social, que vai decorrer em Fátima, de 9 a 11 de setembro. O diretor do Secretariado Nacional da Pastoral Social, o padre José Manuel Pereira de Almeida, apresenta o programa e os objetivos deste encontro.
Agência Ecclesia(AE) – No XXIX encontro da Pastoral Social apostam em sublinhar os apelos do Papa Francisco que coloca o sentido da evangelização nesta modernidade na linha do social indo ao encontro das necessidades das pessoas. Talvez assim o Evangelho também seja mais facilmente apreendido?
Padre José Manuel Pereira de Almeida (JMPA) – Creio que sim, na sequência da fidelidade ao Evangelho que é anunciado por Jesus com palavras e gestos. Os gestos são obviamente de leitura social ou eminentemente de cuidado com os que estão em último lugar, os mais frágeis, aqueles que precisam efetivamente.
O Evangelho é também anunciado com eles, não é para os pobres mas é também com os pobres. É uma Igreja de pobres, para os pobres como o Papa Francisco disse logo desde o início. O Papa até agora não publicou nenhum documento eminentemente social, como fez o Papa emérito Bento XVI na que continua a ser ainda a referência maior no âmbito da Doutrina Social da Igreja, a ‘Caritas in Veritate’, mas a quarta parte do documento «A Alegria do Evangelho», que é só para nós, não é dirigida para nós, é uma exortação apostólica, apesar de ter tido um acolhimento extraordinário fora da Igreja é exatamente isto, a dimensão social do anúncio do Evangelho.
Nós propusemo-nos ler, diria quase ponto por ponto ou grupos de pontos, esse convite que o Papa nos faz para viver o Evangelho de forma enraizada e com cariz claramente de anúncio social.
AE – É um convite que leva a desinstalar-nos, a repensar práticas pastorais, formas de estar na Igreja. O Papa Francisco, neste capítulo IV, convida quase a uma mudança de paradigma?
JMPA – É verdade, até no que diz respeito à relação fé e compromisso social vamos destacar no painel do primeiro dia “Confissão da fé e compromisso social” (números 178-179), com três situações a partir da leitura do Evangelho de São Mateus, capítulo 25: “Vinha de fora e acolheste-me”; “estava preso e foste visitar-me” e “estava doente e foste ver-me”. São três áreas de pastoral social eminentemente especializada, os migrantes, a pastoral penitenciária e a pastoral da saúde com vultos que têm tido importância quer a nível da sociedade civil em geral, quer a nível da pastoral.
Isto a partir de uma conferência do patriarca de Lisboa sobre ‘O pensamento económico e social do Papa Francisco’, que creio vai ser uma bela síntese de tudo o que o Papa foi dizendo nas suas intervenções de tantas maneiras e tantos gestos que soube fazê-lo neste ainda breve pontificado.
AE – Considera que a Igreja está a conseguir responder e acompanhar este ritmo bastante acelerado que o Papa Francisco está a imprimir ou a tentar imprimir às estruturas da Igreja?
JMPA – É de facto um desafio para todos, embora seja uma palavra um bocado estafada, porque é uma desinstalação, é um convite a não ficar tudo na mesma porque se ficar tudo na mesma mais vale estar quieto. Passar de uma Igreja manutenção para uma Igreja de portas abertas com tudo o que isso implica.
Estas jornadas também vão ajudar as pessoas que participam a fazer esse exercício conjunto de acompanhar o Papa no seu sonho que o Evangelho chegue a todos.
AE – Os participantes das jornadas são representantes de movimentos e estruturas da Igreja que estão no terreno?
JMPA – Ao contrário da Semana Social, que é realizada para todas as pessoas, as Jornadas da Pastoral Social são como a exortação apostólica, ad intra da Igreja, e são pessoas de facto comprometidas em estruturas que têm este cuidado social e muitas delas dão-nos grandes exemplos na linha do que o Papa tem proposto.
Nós vamos e estamos a aprender com o Papa Francisco mas não vimos do zero e tenho experiência, ao longo destes anos que tenho estado na Pastoral Social, de aprender muito com a generosidade, a abnegação, a exigência, a qualificação e a qualidade técnica de muitos e muito técnicos e voluntários no âmbito da pastoral social mais ampla.
AE – Pede-se também capacidade de testemunho junto de quem mais sofrem e acaba por isso que depois credibiliza e valoriza diante do mundo a ação dos crentes?
JMPA – Exatamente, muitas vezes sem discursos ou sem palavras mas com serenidade do testemunho quotidiano e a coragem dessa vida entregue, vida dada ao jeito de Jesus.
AE – O programa das Jornadas da Pastoral Social tem diversos intervenientes e vão também fazer uma homenagem a monsenhor Feytor Pinto?
JMPA – Uma justa homenagem: é o meu predecessor na Pastoral da Saúde, foi quem fez a viragem em mais de 30 anos da pastoral dos doentes para uma pastoral da saúde com toda a complexidade que isso comporta, acompanhando e sendo também importante a sua participação no dicastério romano, no ministério da saúde da Santa Sé. O monsenhor Feytor Pinto pediu para deixar este cargo a nível nacional, continua na pastoral da saúde a nível diocesano em Lisboa. É uma referência incontornável a este âmbito e ainda bem que podemos fazer desta maneira. E depois da sua intervenção, no painel da tarde do dia 9 de setembro, vamos fazer um jantar de homenagem.
AE – O ritmo que ele implementou na Pastoral da Saúde e esta visão inovadora encaixam bem nos desafios do Papa Francisco. De alguma forma, o Monsenhor Feytor Pinto teve essa intuição antes da nomeação do Papa?
JMPA – O que quer dizer também que existem muitas coisas que o Papa Francisco assume agora na pessoa do sucessor de Pedro que vêm sendo preparadas, quer pela reflexão teológica, quer pela reflexão teológica prática, pastoral, quer por ações concretas na comunidade eclesial mais vasta.