A leveza do sofrimento

Os Silenciosos Operários da Cruz promoveram, de 20 a 22 de Março, o Fórum subordinado ao tema «Onde está o teu Deus?». A iniciativa, com vários oradores, estava integrada nas celebrações dos 25 anos da morte do seu fundador Mons. Luigi Novarese. Quando a Igreja é acusada de elevar a dimensão do sofrimento, o Pe. José Nuno, Capelão do hospital de S. João, realça que a “fé tem uma imagem falsa do modo como a igreja encara o sofrimento”. Esta afirmação surge após a conferência «Fé e sofrimento: Respostas ou Caminho? – O contributo da Espiritualidade Cristã», proferida no Fórum. É fundamental reformular a linguagem e perceber que o sofrimento tem um “grande potencial pascal”. Todavia para actuar e transformar esta potência pascal que existe no íntimo do ser humano, o Pe. José Nuno salienta que é necessário “evangelizar a vivência cristã do sofrimento” e “colocar os olhos em Jesus Cristo e ver o modo como ele viveu o sofrimento”. Tudo o que se faz na Quaresma e implica algum sofrimento, renúncia e sacrifício “é uma exercitação”. O exercício é algo que se faz “para nos tornarmos capazes de algo” – frisou o capelão do referido hospital. O discurso sobre o sofrimento “nem sempre é muito consentâneo com a vertente luminosa da Páscoa” – disse ao ECCLESIA o Pe. José Nuno. O sofrimento pelo sofrimento é masoquismo. No entanto, há correntes que “valorizam o sofrimento em si mesmo”. E acrescenta: “o sofrimento não é pascal em si mesmo”. A renúncia proposta na Quaresma é “para desenvolvermos as capacidades interiores que nos tornam capazes de percorrer este caminho” – afirma o capelão do Hospital de S. João. A fé oferece o caminho que permite atravessar a “experiência do sofrimento sempre para melhor”. A Irmã Ângela Petitti, de nacionalidade italiana, pertence aos Silenciosos Operários da Cruz – uma associação de fiéis leigos – formada por sacerdotes, irmãos e irmãs. Em declarações à ECCLESIA, a religiosa italiana sublinha estes consagrados dedicam-se a acompanhar as pessoas que fazem a experiência de sofrimento. “Caminhamos juntos dentro do sofrimento do homem à procura da resposta cristã”. Em Portugal, a Associação tem 4 elementos na comunidade de Fátima. Com cerca de cem elementos no mundo, os «Silenciosos Operários da Cruz» têm comunidades em Jerusalém, Polónia, Itália e duas missões abertas na Colômbia e nos Camarões. “Somos uma pequena realidade dentro da Igreja” – disse. Como a experiência do sofrimento é universal, a Irmã Angela Petitti explica que é necessário “crescer nesta dimensão” porque “ele não pode deixar a pessoa passiva”. Na casa da comunidade portuguesa, as pessoas fazem retiros porque é uma casa de espiritualidade. No entanto, noutras comunidades “fazemos terapias e reabilitações que coloquem nas pessoas capacidades para viver a própria vida” – frisou a religiosa italiana. Com estas consagradas, caminha um grupo de pessoas associadas – Centro de Voluntários de Sofrimento – que “têm habilidade para ir ter com outras pessoas”. Através do sofrimento, ajudar a superar esse sofrimento. “Cada pessoa tem de enfrentar cada dia da sua vida”. Da paróquia de S. Mamede, bem próximo de Fátima, Custódia Cunha é uma das voluntárias dos «Silenciosos Operários da Cruz». “Trabalhamos de mão dada com eles” – afirma. Apesar das suas limitações físicas – Custódia Cunha anda numa cadeira de rodas – aplica uma máxima: “o doente por meio do doente com a ajuda do irmão são”. A cruz das pessoas é “pesada” porque “nós é que lhe acrescentamos peso” – explica Custódia Cunha. E acrescenta: “ minha cruz é grande, mas é leve ou então sou eu que não sinto o peso”. Voluntária há vários anos, Custódia Cunha reconhece que levou “bastante tempo a compreender o carisma”. E completa: “nunca tinha imaginado ser testemunha para os outros”.

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