Decorre de 13 a 18 de Janeiro na cidade do México, o VI encontro mundial das famílias. No segundo país do mundo maior em número de católicos, são esperados neste encontro mais de um milhão de pessoas. O evento, convocado pelo Papa, será presidido pelo Delegado especial de Bento XVI, Cardeal Bertone, Secretário de Estado da Santa Sé, e terá como tema “A família formadora nos valores humanos e cristãos”. Para além da riqueza do conteúdo e do grande número de participantes, esperamos deste acontecimento uma maior consciência da função imprescindível da família tanto na geração da vida como na transmissão de valores. De facto, uma das maiores pobrezas que atravessamos na Europa e nos países ricos é a escassez de crianças e a ausência de orientação ética em muitas delas. Ora, sem crianças e sem educação não construímos o futuro. Esta pobreza só pode ser ultrapassada pela família enquanto comunidade de amor e berço da vida. Não é o computador Magalhães que vem resolver. A família, porém, está a atravessar uma crise porventura mais preocupante que a económica. Temos, na verdade, menos matrimónios e mais uniões de facto e uma legislação desfavorável à família: despenalização (e promoção) do aborto; maior favorecimento e protecção dos divórcios do que da família estável e com filhos. Não é, certamente, apenas uma questão de leis. É, antes, uma mentalidade difusa que gera uma forma de pensar e de viver e atinge não só os que fazem as leis mas todos os cidadãos. Gerou-se uma cultura envolvente pautada por um forte individualismo que relativiza o matrimónio como apêndice descartável (“matrimónio para usar e deitar fora”). Tempos atrás, o matrimónio e a família estável eram o sonho do comum dos jovens. Hoje precisamos de sensibilizar e motivar para a beleza do matrimónio e da família como benção de Deus que enriquece as pessoas e a sociedade. A família não está de forma nenhuma ultrapassada. Pelo contrário, é indispensável para a felicidade e desenvolvimento harmonioso dos filhos e para o reconhecimento e o sentido de vida dos adultos. Sem família a sociedade torna-se desumana. Observamos claramente esta verdade no Natal. As pessoas que não têm família de sangue próxima, procuram um ambiente de comunicação afectiva, de partilha gratuita, de alegria íntima e espontânea, onde se sintam como em sua casa, como num lar familiar. Nesta quadra sofre-se mais agudamente a solidão e a ruptura de laços afectivos da família. Verificamos, na cultura do Natal, que a família é a casa da vida. Sem família a vida não tem casa. O presépio, além de representar um acontecimento histórico maravilhoso, é também um símbolo de um anseio profundamente humano: o acolhimento da vida que nasce em ambiente de amor familiar. Portanto, ainda que em certas épocas como na nossa, a família possa ficar relativizada ou até esquecida, não deixa de ser a célula fundamental da sociedade, o lar onde encontramos o calor do afecto que nos aquece e as raízes que nos prendem e seguram na vida. Na família sentimos verdadeiramente que o amor é, como diz a Bíblia, mais forte que a morte Para que a família possa ser formadora dos valores humanos e cristãos, necessita de partilhar valores e ter convicções comuns. Esta é uma das falhas das famílias actuais, marcadas pelo relativismo, pelo desencontro e pelo vazio. Para alcançar acordo profundo e crescer na união de sentimentos e convicções, a família precisa de cultivar o diálogo mútuo e a espiritualidade, de encontrar momentos de convívio e de oração comum. O amor de Deus vivido em conjunto no amor familiar é um alicerce seguro de entendimento e união, de acolhimento e serviço mútuo. “Quem acredita nunca está só”, vence a solidão, combate o individualismo e esforça-se por viver em comunidade. D. Manuel Pelino Domingues, Bispo de Santarém Janeiro de 2009