A escrita com alma de Mons. Miguel de Oliveira

No quadragésimo aniversário da sua morte Com a morte de Mons. Miguel de Oliveira desapareceu «o braço direito» do Centro de Estudos de História Eclesiástica e Revista «Lusitania Sacra» – sublinha Avelino de Jesus Costa, no Tomo VIII (1967/69), da Revista «Lusitania Sacra». A sua morte (28 de Fevereiro de 1968) foi muito sentida em todo o país, sobretudo no meio eclesiástico, onde era muito estimado “pelo seu carácter, vasta cultura e acrisoladas virtudes sacerdotais” – salienta. Nascido a 15 de Dezembro de 1897, na freguesia de Válega, concelho de Ovar, Miguel Oliveira fez o curso teológico no Seminário do Porto (1914 a 1917) e foi ordenado a 18 de Julho de 1920. Cinco anos depois fez uma viagem à Palestina e, ao regressar, foi convidado para chefe de Redacção do Jornal «Novidades». Uma longa série de crónicas publicadas neste órgão de comunicação, com o título «Impressões do Oriente», a descrever a viagem, despertou tanto interesse que, em 1927, se efectuou uma peregrinação – integrada num grupo francês – à Terra Santa. Na viagem visitaram também a Grécia, Itália, Turquia, Síria, Líbano, Egipto e algumas ilhas no Mediterrâneo. Tem um discurso cativante que envolve o leitor. “As referências aos companheiros de viagem são saborosas e transportam uma ironia que manterá como historiador” – escreveu Carlos Moreira Azevedo no livro «Mons. Miguel de Oliveira – no centenário do seu nascimento (1897-1997)». E acrescenta: a graça da narração surpreende-nos, por entre as descrições atentas ao colorido e capazes de implicar o leitor”. Em 1932 inicia uma nova tarefa, que cumprirá até à morte, dedicando particular atenção à secção editorial da União Gráfica, embora prosseguisse o trabalho de redactor no referido jornal. A vocação de historiador vem-lhe dos bancos do Seminário com o primeiro trabalho sobre «Válega – Memória histórica e descrita» que foi publicada em 1921-23. Entre as sínteses que proporcionou ao meio português, “permitindo uma correcta iniciação às matérias e proporcionando meios didácticos para a transmissão do saber está a «História da Igreja», cuja primeira edição se lançou em 1938” (In: Azevedo, Carlos Moreira). A obra não pretendia preencher a lacuna de um manual de História Eclesiástica em português, mas visava servir “A juventude e os membros da Acção Católica”. O livro “por isso, aparece despido dos aparatos de erudição, sem preocupações de originalidade ou elegância literária” – refere o autor. A segunda obra de síntese foi a «História Eclesiástica de Portugal», saída em 1940, foi a “melhor obra, como trabalho crítico de síntese” – escreveu Avelino Jesus Costa. Esta obra mereceu o Prémio «Alexandre Herculano» de História e os mais rasgados elogios dos críticos nacionais e estrangeiros. Em 1941 publicou a «Epigrafia Cristã em Portugal», revendo a colectânea saída no suplemento do jornal «Novidades». Não se sentindo com competência especial, vive a falta de estudo actualizado da nossa epigrafia e arqueologia cristã e presta um serviço impulsionador de trabalhos mais elaborados e criteriosos. “É uma pedra no charco, além da recolha de algumas inscrições inéditas constituir por si próprio verdadeiro contributo científico” – escreveu Carlos Moreira Azevedo. A investigação sobre as «Origens de Cister em Portugal», publicada em 1951, na Revista Portuguesa de História, corrigia erros repetidos cronicamente e permitia guiar o cisterciense francês Maur Cocheril, quando se deslocou a Lisboa, em 1952, por matéria em que haveria de se especializar, com a publicação de muitos estudos. No tomo I (1956) na saudação da Revista Lusitania Sacra, D. António Ferreira Gomes escreve que esta revista “virá ocupar um imenso campo, há tanto tempo deserto de ocupantes (Queríamos aqui se entendesse deserto no sentido alentejano de ávido, que espera ou deseja)”. Mons. Miguel de Oliveira esteve na primeira linha desta revista, cujo título foi indicado por ele. Para além da veia histórica, Mons. Miguel de Oliveira dedicou-se activamente à oratória sacra, enquanto esteve no Porto. “Só no último ano em que foi professor do Seminário pregou cerca de duzentos sermões” (In: Costa, Avelino de Jesus). Um sermão de 1931, na Igreja dos Congregados, foi o primeiro em Portugal a ser transmitido pela Radiotelefonia. Foi Também Mons. Miguel de Oliveira que, em 1930, inaugurou em Portugal as palestras religiosas pela T.S.F. De 1935 a 1939, essas palestras realizaram-se regularmente ao microfone da Emissora Nacional, de 15 em 15 dias, falando alternadamente com Mons. Moreira da Neves. Mons. Miguel de Oliveira abriu uma “clareira nas fileiras do clero português com o seu falecimento, clareira difícil de cobrir, porque a personalidade do querido e saudoso Morto, tão rica e opulenta, como sacerdote, jornalista e escritor, não é fácil de substituir” – escreveu José Maria de Almeida, no Jornal «Novidades» de 1 de Março de 1968. Luis Filipe Santos

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