A missão da Irmã Fulgência numa das regiões mais pobres da Índia
Ver os invisíveis
Bihar é uma das regiões mais pobres da Índia. É seguramente uma das regiões onde vivem algumas das pessoas mais pobres da Índia. Uma dessas pessoas é Sumitra Devi. A sua vida é muito difícil. Falta-lhe quase tudo no dia-a-dia, mas a sua principal preocupação ultrapassa as questões dramáticas da alimentação, vestuário… dos medicamentos. Falta-lhe quase tudo isso, mas ela queixa-se mesmo é de não ter uma capela na sua aldeia. Não tem uma capela mas tem a Irmã Fulgência…
É uma aldeia muito pobre situada num dos estados mais populosos da Índia. São cerca de 140 milhões as pessoas que vivem lá. Uma delas é Sumitra Devi. A Irmã Fulgência conhece bem Sumitra. Falemos dela. Por ali, na aldeia, quase todos vivem com enormes dificuldades. Sobreviver é um desafio quotidiano. A aldeia é um mundo onde falta quase tudo. Menos a força da fé. Sumitra não se queixa das prateleiras vazias da de sua casa, mas sim de não haver nenhuma igreja na aldeia. “Na nossa aldeia não há capela nem igreja. Por isso, não podemos ter Missa todos os dias.” Pode parecer uma contradição, mas foi por não haver sequer uma capela na aldeia que a vida de Sumitra mudou. Um dia ela cruzou-se com a Irmã Fulgência. Quem vê esta irmã ao longe não lhe distingue nenhuma particularidade. Parece apenas uma mulher indiana, com as vestes compridas, o cabelo apanhado, sandálias nos pés. Mas quem reparar nela com mais atenção, notará um crucifixo discreto pendurado ao pescoço. E um sorriso simples quase sempre presente no rosto. A Irmã Fulgência é amiga de Sumitra. Quase todos os dias rezam juntas. Não há capela na aldeia de Sumitra, mas uma simples vela acesa, numa prateleira, transforma a casa, oferece-lhe uma dimensão transcendente.
Vidas difíceis
Falemos da irmã. Quando se apresenta diz apenas que é a Irmã Fulgência. Parece até esconder-se nas palavras para falar de si própria. “Trabalho nesta aldeia há dois anos e meio. Ensino as crianças. Durante o dia visito as famílias e ouço as pessoas para poder entender a sua situação. Rezamos juntos, pedindo ao Senhor que os acompanhe nas suas dificuldades e alegrias.” Sumitra Devi pertence aos ‘dalits’, aos intocáveis, àqueles que estão na base do complexo sistema de castas da Índia. São invisíveis aos olhos da sociedade. Mas não são indiferentes ao olhar da Igreja, às preocupações da Irmã Fulgência. Há imensos ‘dalits’ na aldeia onde a Irmã Fulgência cumpre a sua missão. “Por serem tão pobres, não conseguem mandar os filhos para a escola, mas se forem fortes na fé, terão força para enfrentar as dificuldades da vida.” Rezar, educar, ajudar. Oferecer a vida aos outros. A Irmã Fulgência olha para todas as pessoas como se fossem o Sudário de Cristo. Especialmente os mais pobres. Não é fácil a vida numa aldeia onde falta quase tudo. Mas, de mãos postas, olhos fechados, ao lado da Irmã Fulgência, Sumitra descobre que é mais do que a insignificância que a sociedade lhe atribui. Deixa de ser uma coisa, passa a ser uma pessoa. A fé transforma tudo. A Irmã Fulgência sabe de cor as histórias de todas as pessoas da aldeia, vive as suas dificuldades, as suas dores. Confunde-se com elas. A Irmã Fulgência é uma das pessoas da aldeia. Veste-se como elas, come como elas, conhece como elas os dramas do dia-a-dia. As lágrimas de Sumitra são também as lágrimas da Irmã Fulgência. Uma nasceu sem futuro, sem sonhos nem sorrisos. A irmã nasceu para entregar a sua vida aos outros. As duas encontraram-se numa aldeia na Índia, em Bihar. Falta quase tudo no dia-a-dia de Sumitra, mas a sua principal preocupação é não haver uma capela na sua aldeia. O que vale é a Irmã Fulgência…
Paulo Aido | www.fundacao-ais.pt