A cruz escondida

O sonho da vida do Padre Piotr estava a 9.940 km de distância

Tudo por Deus

Nasceu na Polónia, na aldeia de Lubowo, perto de Gniezno. Desde pequeno queria ser padre. Na verdade, sonhava em ser missionário. Teve de esperar muitos anos até ao dia em que foi enviado para a Amazónia brasileira. Hoje, trabalha com as famílias que vivem ao longo do rio em plena selva. Todos os dias enfrenta perigos e dificuldades. Nada disso, porém, o intimida. “Sou uma pessoa feliz”…

Piotr Shewior queria ser padre para ser missionário mas teve de esperar muitos anos até esse dia chegar. A mãe ajudou-se desde sempre. Tomou a sério as suas palavras e encaminhou-o para o seminário e acompanhou-o pelos anos fora até ao dia da ordenação. Mandaram-no para Roma, para completar os estudos, deram-lhe depois a responsabilidade de algumas paróquias na Polónia, mas Piotr via tudo isso como provisório, como uma passagem para uma missão num país distante. Deixou, até, o seu nome e contacto numa comunidade religiosa sempre com a secreta esperança de que um dia seria chamado para servir a Igreja como missionário. “Estava disponível para ir para onde me mandassem, fosse na Ásia, em África ou na América Latina.” Os desejos foram escutados e um dia o Padre Piotr recebeu uma carta. Era um convite para ingressar numa missão no Brasil. Disse logo que sim. “Fui enviado para a cidade de Tefe, situada no coração da Amazónia”. Os primeiros tempos foram de surpresa e de ambientação. “Não conhecia ninguém mas tinha a certeza de que o Deus que me chamou na Polónia era o mesmo Deus que me tinha recebido no Brasil…” Ser missionário significa estar sempre aberto à experiência, estar sempre disponível para os outros. Muitas vezes significa ter de aprender outra língua, descobrir outras comidas, adaptar-se a usos e costumes diferentes. A ida para a Amazónia foi um deslumbramento. “Os povos indígenas têm muita fé. Ninguém duvida na existência de Deus ao ver o mundo tão bonito que os circunda.” O Padre Piotr é responsável por 35 comunidades espalhadas ao longo do rio. É um trabalho imenso, mas não se queixa. Pelo contrário. “O facto de estar a trabalhar no coração da selva deixa-me feliz. Sou uma pessoa feliz.”

 

A grande estrada

Durante pelo menos três vezes ao ano o padre polaco vive no coração da selva, no meio do rio, no barco que foi doado à paróquia pela Fundação AIS. O rio é, por ali, a grande estrada. “Não há nada, apenas nós e a selva… só conseguimos viajar pelo rio. Duas a três vezes por ano vamos de barco visitar as 35 comunidades situadas ao longo das margens.” São apenas pequenos lugares com meia dúzia de famílias que vivem na floresta junto à margem do rio. São os paroquianos do padre polaco. Desde a cidade de Tefe até à comunidade no lugar mais longínquo são precisas cerca de 20 horas de barco. Só o padre tem a preocupação de visitar aquelas pessoas esquecidas pelo resto da sociedade. “Mais ninguém faz isso.” As temperaturas são altas, a humidade é por vezes brutal. “Sente-se isso no próprio corpo. No princípio é difícil. Troco de camisa várias vezes ao dia. Mas fazemos tudo por Deus. Fazemos qualquer coisa por Deus.” Nem sempre é possível viajar pelo rio. Às vezes é mesmo perigoso. Há crocodilos e alguns peixes que atacam os seres humanos. Mas não há nada que pague a alegria dos que pressentem a chegada do sacerdote e vêm recebê-lo nas margens do rio. Não há dois dias iguais nesta paróquia que se estende ao longo do Amazonas. “Até um bebé já nasceu aqui no barco”, diz o padre polaco recordando a viagem em que teve de acudir uma mulher em trabalho de parto. “Graças ao barco que a Fundação AIS nos ofereceu, posso chegar até àqueles que precisam tanto da nossa presença. Em todo o mundo há muito homens e mulheres como eu que querem estar perto das pessoas, apesar das dificuldades. Eles precisam da vossa ajuda.” Fazer tudo por Deus era o sonho da vida do padre Piotr. Um sonho que, afinal, estava a 9.940 km de distância do lugar onde nasceu.

Paulo Aido | www.fundacao-ais.pt

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