A cruz escondida

SÍRIA: Dois cristãos, um sacerdote e o pai, assassinados por jihadistas

Resistir ao medo

No nordeste da Síria, há pouco mais de duas semanas, militantes jihadistas assassinaram um sacerdote e o seu pai. Ambos estavam envolvidos na reconstrução de casas e de igrejas na região para que o regresso dos cristãos às suas aldeias possa ser uma realidade. Foram assassinados a tiro. A guerra na Síria parece não ter fim à vista…

Quando os dois homens se aproximaram do automóvel onde circulava o Padre Hovsep Petoyan, na estrada que liga Al Hassaké a Deir Ezzor, não tiveram quaisquer dúvidas. Eram eles. No carro havia um letreiro a dizer ‘Igreja Católica Arménia’, e a roupa de Petoyan indicava claramente que se tratava de um sacerdote. Quando se aproximaram de motocicleta, os dois homens limitaram-se a disparar. No carro, além do Padre Hovsep, ia o seu pai e ainda um diácono e uma quarta pessoa, um leigo pertencente à comunidade local. Foi o único a escapar ileso. O diácono ficou ferido, tal como o padre. O pai de Petoyan morreu instantaneamente. Apesar de transportado com urgência para o hospital local, dada a gravidade dos seus ferimentos, o Padre Hovsep Petoyan também não sobreviveu. Horas depois, os jihadistas do Daesh reivindicaram o atentado. Como se não bastasse este clima intimidatório, as populações locais têm de viver num quotidiano feito de incertezas. Os cortes de electricidade são comuns várias vezes ao dia, assim como as falhas no abastecimento de água. Tudo contribui para um esvaziamento acentuado da presença cristã nesta região. Uma tendência que parece inexorável a cada dia que passa.

 

Corrida contra o tempo

O futuro é cada vez mais incerto. A ameaça terrorista continua presente. O Padre Petoyan foi assassinado ao viajar para Deir Ezzor para acompanhar no local os trabalhos de recuperação de uma igreja destruída pelos jihadistas. Estava empenhado nessa missão. Com muita frequência viajava até lá pois tinha pressa em ver os trabalhos concluídos. O Padre Petoyan sabia que corria contra o tempo. Se as igrejas, se as casas dos cristãos não forem recuperadas, se não houver um mínimo de segurança, ninguém quererá viver por ali. Será sempre muito arriscado. Os cristãos continuam a ser uma pequena minoria numa vasta região cobiçada por muitos. Em declarações à Fundação AIS, D. Boutros Marayati, arcebispo arménio-católico de Alepo, diz que “a situação é caótica” na região. “Há os turcos, os curdos, os americanos, os russos…” E há um indisfarçável sentimento de receio de quem se sente abandonado no meio de tantos exércitos, de tantos soldados. “Os cristãos têm medo” reconhece o prelado à Fundação AIS. “A cada novo surto de violência, muitas famílias decidem emigrar.” E dificilmente regressam. A guerra na Síria ainda não acabou. “Estamos a viver tempos extremamente difíceis”, diz D. Boutros Marayati. “Por favor, rezem por nós…” O Padre Hovsep Petoyan e o seu pai foram assassinados no dia 11 de Novembro. Foi há pouco mais de duas semanas. A guerra na Síria parece não ter fim à vista.

Paulo Aido | www.fundacao-ais.pt

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Agência ECCLESIA

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