A cruz escondida

Uma irmã portuguesa, da Ericeira, no caminho do Papa no Sudão do Sul

“Obrigada, Francisco!”

Beta Almendra é comboniana, tem 53 anos, está em missão em Wau, no Sudão do Sul, e seguiu a par e passo a viagem do Papa Francisco a este país de África. Foram três dias de visita do Santo Padre ao mais novo país do mundo. Uma visita que poderá ser determinante para que a guerra acabe de vez e se dê uma oportunidade à paz.

Elisabete Almendra, uma religiosa portuguesa que vive em Wau, não escondeu a alegria e até uma certa excitação pela visita do Santo Padre ao Sudão do Sul. Uma visita que esteve para acontecer em Julho do ano passado e que foi adiada por motivos de saúde – os crónicos problemas com o joelho do Papa. Beta Almendra, como é mais conhecida, tem 53 anos, é natural da Ericeira, no Patriarcado de Lisboa, e o Sudão do Sul é a sua segunda experiência missionária em África. Antes, durante seis anos, esteve no Quénia. Ela chegou a Wau no início de 2021, em plena pandemia do coronavírus e não esconde a alegria por esta visita, pela importância desta visita, por estar a viver, de certa forma, um momento histórico. Se há país que precisa de paz é mesmo o Sudão do Sul. É o mais novo país do mundo e é difícil encontrar alguém que não saiba o que significa a guerra, os combates, os ataques às aldeias, o terror que tem levado milhões a fugir apenas para salvar a própria vida. É por causa de tudo isto que a visita do Papa foi tão importante. “A paz ainda não é uma realidade”, diz a Irmã Beta Almendra. Na memória de todos está o gesto inesquecível de Francisco, que surpreendeu o mundo ao beijar os pés dos principais líderes do Sudão do Sul, o presidente Salva Kiir e os seus vice-presidentes, Riek Machar e Rebecca Nyandeng. Foi em Abril de 2019, num retiro espiritual que decorreu no Vaticano. Um gesto que permitiu, desde então, alimentar todas as esperanças.

Dias importantes

O Papa é um construtor de pontes, um fazedor de paz. A sua presença, agora, no Sudão do Sul, não deixou ninguém indiferente. Dias antes da chegadas do Papa já estava a caminho até Juba, a capital do Sudão do Sul, o lugar onde o Papa se encontrou com milhares de pessoas, onde deixou a sua mensagem de paz e de reconciliação. “É com muita alegria que nos estamos a preparar para receber o Papa. Estamos na estação seca e é uma boa oportunidade para viajar por terra. Vamos em comboio, em grupo, esperamos que em dois dias se consiga chegar a Juba. Estamos preparados.” Ninguém quis ficar de fora desta viagem que poderá ser um marco na história do Sudão do Sul, até por que a paz demora. Em 2013, uma desavença política entre o presidente Salva Kiir e o vice-presidente Riek Machar transformou-se num conflito aberto, num conflito armado a que não serão alheias também as origens dos dois dirigentes. Kiir pertence à etnia dinka e Machar ao povo nuer. São as duas principais etnias do Sudão do Sul e as rivalidades são muitas e antigas. A paz, aqui, precisa também de reconciliação. A presença do Papa – juntamente com o líder da Igreja Anglicana, o Arcebispo de Cantuária, Justin Welby, e de Jim Walace, da Igreja Presbiteriana da Escócia – permite agora alimentar todos os sonhos. “A paz ainda não é uma realidade. É um processo que se está a tentar fazer e, por isso, o Papa veio nesta peregrinação, juntamente com outros elementos da comunidade cristã. Veio pedir, veio dialogar…” Beta Almendra definiu a visita do Papa como uma peregrinação. Foi seguramente uma peregrinação pela paz. A irmã não esteve mesmo com o Papa. Não conseguiu falar com ele, como tanto desejava. Mas se esse encontro tivesse acontecido, se tivesse trocado com ele algumas palavras, mesmo que breves, já sabia o que lhe iria dizer. “A primeira coisa seria ‘obrigada’. Obrigada por ter vindo, obrigada por vir ao Sudão do Sul visitar esta gente, rezar, rezar connosco, dar-nos realmente esperança em nome de toda a Igreja e do mundo.”

Paulo Aido | www.fundacao-ais.pt

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