O Bispo de Matagalpa, na Nicarágua, está preso desde o dia 19 de Agosto
“Somos um alvo”
Faz esta terça-feira, 18 de Outubro, 60 dias que o Bispo de Matagalpa está detido. A prisão de D. Rolando Álvarez representa uma das maiores afrontas do regime sandinista à Igreja Católica, e é um exemplo da violência para com a comunidade cristã, para com todos os católicos deste país da América Central.
D. Rolando Alvarez, Bispo de Matagalpa, foi preso a 19 de Agosto. Foi preso juntamente com cinco sacerdotes e dois seminaristas. Já há muito tempo que as forças de segurança, a polícia e o exército, rondavam os passos do Bispo procurando sufocar as suas palavras, os seus gestos, procurando reduzi-lo ao silêncio. A detenção do prelado não é, porém, caso único. O Governo de Daniel Ortega nem procura disfarçar o tom intimidatório com que tem lidado com a Igreja Católica. Antes da prisão do Bispo, as autoridades da Nicarágua já tinham dado ordem de expulsão ao núncio apostólico e também às Missionárias da Caridade, a congregação fundada por Santa Madre Teresa de Calcutá. E como se tudo isto não fosse suficiente, Daniel Ortega ordenou ainda o encerramento do canal de televisão da Conferência Episcopal e de outras seis estações de rádio da Igreja. O caso mais recente de atropelo à liberdade religiosa ocorreu há poucas semanas, a 19 de Setembro, com as autoridades a impedirem, “por razões de segurança”, a procissão a São Miguel Arcanjo, na cidade de Masaya.
“Não nos deixam em paz…”
Num documentário produzido recentemente pela Fundação AIS, várias pessoas aceitaram falar sobre este clima de opressão que parece não ter fim à vista. “Eles não nos deixam em paz. Sinto que somos um alvo”, denuncia Elieth Obando, da Pastoral Juvenil de Juigalpa, como se falasse em nome de todos os Cristãos do país. Pelo olhar da câmara de filmar vão passando vários testemunhos, histórias de jovens e adultos que não escondem o medo, mas que falam sobre a perplexidade de tudo o que está a acontecer. Vê-se, por exemplo, um grupo de jovens na rua a rezar o Terço, e, por trás, muitos motociclistas, empunhando pistolas ou espingardas e lançando sobre eles palavras intimidatórias. São muitas as ameaças, as formas de incutir o medo. Patrulhas da polícia, por exemplo, circundam as casas de responsáveis da Igreja, de forma a se criar um clima de terror. Ramón Galeano conta que a sua mãe, já idosa, passou a ter medo sempre que ele ia à Catedral para rezar. Mas no meio de tanta violência, sente-se que a comunidade cristã está mais unida do que nunca. No documentário, o Bispo de Matagalpa também participa. Ainda não tinha sido preso. As suas palavras, que tanto têm enfurecido o regime, são a prova de que não é pela força das armas que os Cristãos vão desistir. “A Igreja na Nicarágua tornou-se um povo, e sofre com quem sofre, chora com quem chora”, diz D. Rolando. Mesmo a terminar o documentário, escuta-se ainda Berta María Monterrey. Também ela fala em resistência, em unidade, em coragem. “Vamos seguir Jesus. Quaisquer que sejam as consequências…”
Paulo Aido | www.fundacao-ais.pt