A cruz escondida

As estradas do Maláui são um obstáculo para o trabalho do Pe. Chikwiri

Missão [quase] impossível

Muita pobreza, muitas pessoas desenraizadas, muitos refugiados. No sul do Maláui, há muita gente que veio de Moçambique fugindo ainda da violência da guerra civil. Todos precisam de ajuda, mas, para o Pe. Ephraim Chikwiri, há ainda outras urgências, outras almas para acudir. Ele é capelão em cinco prisões e não sabe como chegar a todas elas na sua velha motorizada, em estradas que nunca viram a cor do alcatrão…

A região sul do Maláui parece um enclave no meio de Moçambique. Entre os dois países há, aliás, muitas histórias partilhadas, em especial de pessoas que se viram forçadas a fugir quando o país viveu os duros anos da guerra civil, entre 1985 e 1995. Nessa década, calcula-se que mais de um milhão de moçambicanos tenham passado as porosas fronteiras em busca de alguma paz e tranquilidade. Curiosamente, as autoridades voltaram a identificar agora, já nos últimos meses, novos grupos de refugiados oriundos de Moçambique. Desta vez, são pessoas que fogem do terrorismo que assola a província de Cabo Delgado. O Pe. Ephraim Chikwiri sabe bem como estes refugiados representam um desafio para a Igreja. São pessoas sem nada que precisam de quase tudo para sobreviver no dia-a-dia. Mas para o Pe. Chikwiri, há outras urgências, outros dramas a resolver. Na Diocese de Zomba, no sul do país, há cinco estabelecimentos prisionais. O Pe. Chikwiri é capelão em todos eles. Não há dia em que não peçam a sua presença. Na verdade, ele é mais do que um simples capelão. Para muitos dos presos, é através dele que conseguem sonhar a vida depois das grades, depois da reclusão. As prisões em Zomba não são lugares fáceis. As pessoas endurecem na ânsia de sobreviver. Tornam-se rudes, agrestes, violentas. É sobre isso que o Pe. Chikwiri trabalha todos os dias. Ele quer transformar aquelas pessoas. Para isso, precisa de amolecer desconfianças, de criar laços, de os aproximar uns dos outros. Caso contrário, nunca saberão respirar o ar da liberdade. É difícil o trabalho do Pe. Chikwiri, mas ele não se queixa do número de pessoas que tem de atender, não se queixa de estar praticamente sozinho nesta missão tão especial que a Diocese lhe pediu.

Uma velha motorizada

As estradas no Maláui são difíceis, muito difíceis em especial na época das chuvas quando a água torrencial transforma a terra vermelha em lama e cava buracos que parecem querer engolir os próprios automóveis. Mas o Pe. Chikwiri nem tem carro. Desloca-se com uma velha motorizada que já se esfalfou em milhares de viagens, em urgências para atender, em pessoas aflitas a visitar, em quilómetros que já não é possível contabilizar.  A falta de um carro preocupa-o de verdade. Ele sabe que, no dia em que não conseguir visitar todos os presos, por a velha motorizada se recusar a fazer mais quilómetros, dezenas de pessoas deixarão de ter visita, deixarão de ter alguém com quem conversar, deixarão de ter um amigo que lhes encha o dia com palavras que façam sonhar. “A Igreja deve trazer a cura para uma sociedade destroçada e restaurar as almas humanas”, diz o Pe. Ephraim Chikwiri. Os dias do Pe. Chikwiri são intensos. Por vezes, as horas não chegam para tudo o que tem de fazer, para todas as pessoas que tem de visitar, para todas as tarefas que gostaria de planear. É que, além de celebrar Missa nas cinco cadeias, o padre ainda organiza encontros mensais com os reclusos, cursos de estudo bíblico, dá aulas de catequese e, às vezes, até faz de psicólogo junto dos que estão numa situação mais difícil, mais complicada. Mas não são apenas os reclusos que beneficiam da sua presença. Os próprios guardas prisionais já se habituaram a vê-lo por ali, à sua voz amiga, aos seus conselhos, à sua disponibilidade total. Para cumprir com a sua missão, o Pe. Ephraim Chikwiri pede-nos ajuda apenas para um carro robusto. Apenas isso. Ele precisa de nós para continuar a “restaurar almas”. Vamos ajudá-lo?

Paulo Aido | www.fundacao-ais.pt

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