Na Amazónia, o povo Ticuna tem agora uma Bíblia na sua própria língua…
Um sonho com 15 anos
É um território vastíssimo, superior ao tamanho de Portugal. No entanto, nesta região da Amazónia brasileira situada perto da Colômbia e do Peru, vivem apenas cerca de 220 mil habitantes. Quase 40 por cento são indígenas. A maior parte pertence à tribo Ticuna. Desde 2019 que este povo tem uma Bíblia na sua própria língua… É a Bíblia das Crianças, uma das iniciativas de maior sucesso da Fundação AIS
Há um pormenor muito especial na fotografia. Foi há quase um ano, a 15 de Março. Anselmo Pereira Ângelo está a segurar um pequeno livro durante a cerimónia em que foi ordenado diácono permanente. A Igreja do Alto Solimões vestiu-se de alegria para a festa. E havia razão para isso. Afinal, Anselmo era o primeiro elemento oriundo da população indígena a receber o rito da consagração diaconal. Os cânticos, as danças, as pinturas nos rostos de todos os que enchiam a igreja mostravam como aquele dia estava a ser especial. Tão especial como o livro que Anselmo segurava entre as suas mãos: a Bíblia das Crianças. Editado em língua Ticuna, esta Bíblia, que tem vindo a fazer verdadeiros milagres pelas terras da Amazónia, começou a ser sonhada há cerca de 15 anos. O Frade Paolo Braghini achava que a melhor forma de falar de Deus aos povos indígenas seria através da Bíblia das Crianças, um livro da Fundação AIS que já foi traduzido em mais de 190 línguas. Era preciso fazê-lo também ali. “A maioria do povo não sabe ler em português, mas as novas gerações já sabem ler na língua Ticuna. É belo ver como eles seguram com carinho essa Bíblia nas mãos, porque é deles”, explica Paolo, missionário capuchinho. “Em muitas comunidades os catequistas preparam-se dias antes, lendo essa Bíblia, para depois contar as histórias às criancinhas. Está a ajudar imensamente na evangelização.”
Sinal de esperança
Desde a primeira hora que Anselmo assumiu com todo o empenho a missão de ajudar na tradução. Pai de nove filhos, Anselmo é hoje uma figura incontornável na vida da Igreja nas terras da Amazónia. “Nós rezamos muito em Ticuna. Essa Bíblia é muito importante para as crianças e também para os adultos”, explica à Fundação AIS. “Deus chamou-me para escutar e levar a Sua Palavra como diácono.” Graças a ele e a um punhado de outros voluntários, as crianças da tribo Ticuna podem agora ler as histórias da Bíblia na sua própria língua. Pode parecer pouco, mas é seguramente revolucionário para a vida da Igreja nesta região. A importância deste pequeno livro editado pela Fundação AIS ajuda a perceber por que razão Anselmo Pereira Ângelo fez questão de levar um exemplar consigo durante a cerimónia em que foi ordenado diácono. Até o Papa Francisco, nos anos em que foi Cardeal de Buenos Aires, chegou a pedir alguns milhares de exemplares para distribuir entre as crianças que frequentavam então a catequese na capital da Argentina… Com mais de 51 milhões de exemplares, a Bíblia das Crianças tornou-se num sinal de esperança em todo mundo. Afinal, o livro já foi distribuído em mais de 140 países graças à generosidade dos benfeitores da Fundação AIS. Não foi só o Papa Francisco a descobrir a sua importância. Também Bento XVI e São João Paulo II manifestaram, em ocasiões distintas, o apreço por este livrinho tão especial.. Anselmo Pereira Ângelo sabia bem que estava a segurar uma pequena preciosidade quando levou consigo a Bíblia das Crianças, que ajudou a traduzir para a língua Ticuna, no dia em que foi ordenado diácono permanente…
Paulo Aido | www.fundacao-ais.pt