Terror na Basílica de Nice é sinal de ameaça sobre os cristãos em França
Vidas interrompidas
Tinham nome, família, profissão. Provavelmente não se conheciam entre si. A história, porém, vai juntá-los para todo o sempre. Duas mulheres e um homem foram assassinados por um jovem jihadista num ataque na Basílica de Notre-Dame, em Nice, na manhã de 29 de Outubro. Um sinal de ameaça a toda a comunidade cristã em França…
Foram mortos com uma faca de cozinha. Uma mulher de 60 anos, Nadine Devillers; Simone Barreto, brasileira, 44 anos, mãe de três filhos; Vincent Loquès, sacristão, duas filhas. Vidas interrompidas por um terrorista, um homem jovem, tunisino, Brahim Aioussaoi. Na manhã de 29 de Outubro, Brahim entrou na Basílica de Notre-Dame, em Nice, empunhando uma faca de cozinha. Para fazer um atentado não é preciso mais do que isso. Basta uma faca de cozinha. As duas mulheres tinham ido à Igreja para rezar. O sacristão estava ali na sua rotina de todos os dias: abrir as portas do templo, acender as velas, assegurar que tudo estava em ordem, dar apoio ao padre, aos fiéis… Todos os três tinham projectos para aquele dia, para aquela quinta-feira. Vincent, o sacristão, até poderia estar a organizar uma festa para o seu aniversário, pois ia fazer 55 anos dali a horas, na sexta-feira. Nenhum deles, porém, imaginaria que aqueles seriam os últimos momentos das suas vidas. Foi um ataque selvagem e ignominioso. Foi um crime premeditado. Por ter ocorrido ali, dentro da Igreja, não permite dúvidas. Foi um ataque aos cristãos. A França vive tempos duros. O coronavírus está a fustigar o país sem piedade, como quase toda a Europa. Como se não bastasse a epidemia da saúde, ressurgiu agora com todo o vigor o vírus da intolerância e do ódio. Quando entrou na Igreja, o terrorista procurou apenas matar. Foram três as vítimas. Poderiam ter sido muito mais. Vincent, o sacristão que não chegou a soprar as velas dos 55 anos, era muito apreciado por todos. Uma paroquiana falou dele com palavras doces ainda molhadas por lágrimas. Disse que era um homem sorridente, preocupado com os outros, que dava de comer aos pobres e ajudava os refugiados que apareciam por ali. Tinha um bom coração.
A última mensagem
A mulher brasileira, que estava ali de passagem, em oração, e que vivia em França há três décadas, deixou três filhos. Trabalhava a tomar conta de idosos. Ainda se arrastou para fora da Igreja já a esvair-se em sangue. Ainda teve tempo de deixar um recado a quem a amparou na agonia da morte. “Digam à minha família que a amo.” Foram as suas últimas palavras. O seu testamento. A outra mulher, Nadine, de 60 anos, foi degolada junto à pia baptismal. Quando a notícia do ataque na Basílica começou a chegar às redacções dos jornais, das rádios e televisões em todo mundo, houve quem lembrasse logo o padre Jacques Hamel, também assassinado numa igreja em França. Hamel, de 85 anos, foi degolado na igreja de Saint Étienne-du-Rouvray, um subúrbio de Rouen, no nordeste de França, em 26 de Julho de 2016. É difícil compreender tanto ódio. É difícil compreender como se pode matar assim pessoas inocentes. Pessoas que se preocupavam com os outros, que socorriam os mais necessitados, que levavam vidas vulgares. O martírio de todos estes cristãos, do padre Hamel, da mulher brasileira, da senhora de 60 anos, e de Vincent, o sacristão, mostra-nos que há uma ameaça, como uma nuvem negra, bem perto de nós. Os cristãos estão na mira dos terroristas também aqui, na Europa. É escusado ignorar esta realidade. A história da Igreja sempre houve perseguição, violência, ódio e sangue. Foi assim no princípio, nos primeiros anos, e está a ser assim agora, em pleno século XXI, mesmo na Europa. Até na Europa. O que o terrorista Brahim Aioussaoi ignorava é que o sangue dos mártires sempre foi também semente de cristãos…
Paulo Aido | www.fundacao-ais.pt